Sexta-feira, 12 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de setembro de 2025
As atletas foram obrigadas a abandonar o hotel onde estavam hospedadas e buscar refúgio em uma área de mata próxima.
Foto: Reprodução/InstagramAs jogadoras brasileiras de vôlei Ana Flávia Galvão e Mayra Souza enfrentaram momentos de pânico no Nepal, onde disputam a Everest Women’s Volleyball League pelo clube Karnali Yashvis. Hospedadas na cidade de Pokhara, as atletas tiveram o hotel invadido por manifestantes durante uma onda de protestos violentos que tomou conta do país asiático.
A crise política e social se intensificou após o governo bloquear redes sociais como Facebook e Instagram, provocando revolta popular. Manifestantes ocuparam o Parlamento, incendiaram prédios públicos e casas de ministros. O primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou ao cargo, e o exército assumiu o controle, decretando toque de recolher.
No dia 9 de setembro, Ana Flávia e Mayra estavam no hotel quando ouviram gritos, explosões e viram veículos sendo incendiados no estacionamento. As duas conseguiram fugir a pé por uma área verde próxima ao terraço, se abrigando em outro local mais seguro.
“Foi muito desesperador. Dava para ouvir barulhos de pessoas gritando, coisas quebrando e estrondos mesmo quando já estávamos escondidas na mata”, relatou Ana Flávia.
As jogadoras ainda retornaram ao hotel para recuperar documentos e pertences pessoais, escapando ilesas. Outros atletas hospedados em hotéis diferentes perderam todos os seus bens em incêndios provocados pelos protestos.
Apesar de estarem em segurança, Ana Flávia e Mayra ainda não têm previsão de retorno ao Brasil. Os aeroportos permanecem fechados e o clima de tensão continua nas ruas.
“As orientações são para todos se manterem em toque de recolher. Ainda não sabemos quando vamos poder deixar o Nepal”, disse Ana Flávia.
Ambas vivem experiências internacionais no vôlei: Ana Flávia, de Uberlândia, já passou por clubes na Europa; Mayra, de Belo Horizonte, está em sua primeira temporada fora do Brasil.
Nepal
O descontentamento de parte da população vem de longa data por conta da lentidão de cumprimento de promessas de melhora na governança do país, que em poucas décadas saiu da era da monarquia para a da república, sem conseguir no entanto mudar muito a condição social das pessoas.
O Nepal enfrentou uma guerra civil entre 1996 a 2006, após o Partido Comunista do Nepal (de vertente maoísta) lançar uma rebelião armada contra a monarquia. A insurgência maoísta terminou com a assinatura de um acordo de paz abrangente em novembro de 2006, levando à abolição da monarquia e ao estabelecimento de uma república democrática federal no Nepal dois anos depois.
Mas o país já teve 14 governos em vigor desde a transição para a democracia parlamentar. A coalizão que estava no poder, de centro-esquerda, tinha um acordo com partidos menores para alternar o governo até 2027. Mas avaliação de analistas era que essa união continuava ameaçada pelas rivalidades e ambições pessoais de seus líderes, determinados a preservar sua influência.
Mesmo com as mudanças políticas nas últimas décadas, a corrupção entre funcionários do governo – principalmente a concessão de licenças e aprovações e contratos públicos para bens e serviços – continua a ser um problema. Para quem não têm conexões em altos cargos, os subornos continuam sendo uma forma comum no país de se obter acesso a serviços públicos ou até mesmo realizar atividades comuns, como conseguir uma carteira de motorista ou uma certidão de nascimento.
O Nepal tem algumas ineficiências e fraquezas, como o fato de ser um país sem litoral, portanto dependente dos portos indianos. Também tem escassez de infraestrutura, uma cesta de exportação pouco diversificada e com dependência forte da agricultura (21% do PIB, 35% das exportações e 61% do emprego). Além disso, tem uma elevada dívida pública, equivalente a 89% do PIB, e um caso extremo de evasão fiscal.
Ainda assim, o Banco Mundial tem elogiado o crescimento econômico do Nepal nos últimos anos. Essa aceleração ocorreu apesar dos desastres naturais e interrupções no turismo — inundações e deslizamentos de terra nos últimos anos causaram danos equivalentes a 0,8% do PIB, impactando severamente a infraestrutura, a agricultura e os serviços sociais. A inflação geral do país diminuiu para 5% no acumulado de 12 meses até junho de 2025, ante 6,5% no mesmo período de 2024, atingindo teto da meta.