Sexta-feira, 01 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 6 de novembro de 2022
Presa há quase um ano e três meses, a ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza começa a ser julgada nesta segunda-feira (7), acusada de ser mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo. Três filhos e uma neta dela também estarão no banco dos réus. Mas Flordelis, outras rés e testemunhas levarão ao plenário acusações de violências físicas e sexuais que teriam sido cometidos por Anderson, o que pode dar a tônica do julgamento, que se estenderá por mais de um dia. Em vídeo obtido pelo jornal O Globo, feito na última semana na penitenciária Talavera Bruce, no Complexo de Gericinó (em Bangu, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro), Flordelis detalha a seus advogados episódios dos quais acusa o pastor, como relações sexuais forçadas. Alegações, porém, que são refutadas pelo advogado que defende a família de Anderson.
Na gravação, Flordelis diz que sofria violência física após o casamento. Os episódios teriam cessado por um tempo, mas ele teria voltado a agredi-la, dessa vez, durante o sexo.
“Ele me batia e não era pouco. Depois parou. Então, eu achava que as outras coisas também iam parar. Ele ficou um tempo tranquilo. Não sei o que deu na cabeça dele, que começou a me judiar. Mas ele só me judiava na hora de relação sexual. Nessa hora que eu pedia a Deus. Chegava em casa e pedia que ele estivesse cansado para não transar (…) Ele só conseguia ter orgasmo se me judiasse, se me machucasse”, afirmou Flordelis, chorando
Chegando a bater com as mãos na cabeça, aparentando nervosismo, ela afirma ainda que Anderson a forçava a ter relações sexuais:
“Às vezes eu estava dormindo (…) Já acordava com ele em cima de mim. Não adiantava eu falar não pra ele. Quanto mais eu falava não, ele se excitava ainda mais.”
Segundo o relato, ela ficava com dores, mas Anderson agiria como se nada tivesse ocorrido.
“Era muita dor. Eu ficava uns dois, três dias sentindo dor”, disse Flordelis no vídeo.
A ex-parlamentar sempre alegou inocência e que não tem qualquer envolvimento com a morte do marido. Na gravação, ela diz que jamais faria mal a Anderson, a quem se refere como “meu tudo”. Mas, em eventual condenação, ela pode ter a pena reduzida se sua defesa pedir aos jurados o reconhecimento do chamado homicídio privilegiado, quando o autor comete o crime “impelido por motivo de relevante valor social ou moral”, o que os advogados ainda não confirmam que farão.
“Vamos levar aos jurados a realidade do que acontecia e que precisa ser exposto. Seja pelo intermédio de testemunhas e da própria acusada no seu interrogatório. Os jurados, para tomarem uma decisão justa, precisam ter subsídio probatório”, afirma Rodrigo Faucz, um dos advogados da ex-deputada.
Advogado da família de Anderson, Ângelo Máximo refuta as acusações e pontua que a tese de que o pastor cometia abusos na casa chegou a ser levantada no início das investigações por Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, ao admitir ter dado os tiros que mataram a vítima. Porém, não foi confirmada por integrantes da família ouvidos pela Polícia Civil. Durante depoimentos em audiências na Justiça, os dois delegados que atuaram no caso, Bárbara Lomba e Allan Duarte, disseram que os supostos abusos não foram comprovados.
“A prova que está no processo é a de que Anderson foi vítima de um brutal homicídio perpetrado pela sua esposa, a mando dela, com a participação de filhos. Agora, estão querendo acusá-lo de estupro, de abuso sexual, o que é inadmissível. No Tribunal do Júri, nunca vi saírem vitoriosas teses como essa, que acusa a vítima que não está mais para se defender”, diz Máximo.
Flordelis também relatou os abusos ao psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro, assistente técnico da defesa que prestará depoimento no julgamento. Junto com uma psicóloga, ele entrevistou a ex-parlamentar em 27 de abril deste ano e elaborou um laudo anexado pela defesa ao processo. No documento, Lobo aborda assuntos como as histórias sobre a adoção de crianças – Flordelis diz ter 52 filhos, entre afetivos, adotivos e biológicos – e a relação dela com o marido.
De acordo com o atestado assinado pelos profissionais, ao ser questionada sobre a vida com Anderson, Flordelis afirmou que “ocorriam abusos físicos e sexuais no casamento”, mas não gostava de falar no assunto. Eles registram que, após insistência, Flordelis afirmou “com constrangimento” que, nos últimos anos, Anderson tinha ficado mais violento no ato sexual. “Descreveu que o esposo tinha o hábito de enforcá-la na hora do prazer e chegou ficar desacordada uma vez”, afirmam no texto. As informações são do jornal O Globo.