Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 26 de maio de 2018
“Costuma-se dizer que onde tem Brasil, tem Forças Armadas”. A fala é do general Joaquim Silva e Luna, atual ministro da Defesa, em uma entrevista a jornalistas no fim da tarde de sexta-feira, no Palácio do Planalto, em Brasília. Para Silva e Luna, a população brasileira já está acostumada com o uso das Forças Armadas nas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), e o Exército está em condições de ajudar o governo a desbaratar a greve dos caminhoneiros por ter estruturas e efetivos espalhados por todo o País.
Mas ao contrário do que sugere a fala do ministro, a medida anunciada por ele e pelos colegas Eliseu Padilha (Casa Civil), Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), Raul Jungmann (Segurança Pública) e Carlos Marun (Secretaria Geral) é extraordinária: esta é a primeira vez que o governo decreta uma operação GLO em todo o território nacional (e não em Estados ou municípios definidos). O decreto – publicado depois das 21h de sexta-feira – dá poder de polícia para as Forças Armadas em todo o País, até o dia 4 de junho.
O uso da força também tem respaldo do Judiciário: no começo da noite, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes atendeu a um pedido da Advocacia-Geral da União e autorizou o governo a remover manifestantes que estejam bloqueando vias ou estejam protestando nos acostamentos das pistas. A decisão de Moraes é inclusive mencionada no decreto de Temer.
Moraes também autorizou o governo a multar em até R$ 10 mil reais os caminhoneiros que bloqueiem vias, e R$ 100 mil as entidades que organizem bloqueios.
E agora?
Conforme a rede BBC Brasil, o Ministério da Defesa deve designar um militar para atuar como comandante da operação – ele ficará encarregado de coordenar o trabalho de homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica que atuarão no caso. Em seguida, este comandante estabelecerá um Gabinete de Crise para acompanhar a evolução da situação – neste caso, o gabinete terá representantes do Ministério da Defesa e da Segurança Pública.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Força Nacional (FN) também atuarão em apoio ao Exército.
Os procedimentos de uma operação GLO estão definidos em um manual do Ministério da Defesa, publicado em 2013.
Quando a intervenção ocorre em um único Estado (a pedido de um governador, por exemplo), o militar designado para a operação também assume temporariamente o comando das forças de segurança locais e da Força Nacional.
O próprio manual do Ministério da Defesa diz que o uso das Forças Armadas nas GLOs deve ser “episódico, em área previamente definida e ter a menor duração possível”.
Segundo o ministro Carlos Marun, o governo pretende ter a situação normalizada muito antes do fim do decreto – a expectativa do Planalto é que os grevistas sejam totalmente desmobilizados ao longo deste sábado.
Com a GLO, os militares passam a ter as mesmas funções que os policiais – o chamado “poder de polícia”.
De acordo com o texto do decreto (leia a íntegra), as Forças Armadas estão autorizadas a agir para desbloquear rodovias federais em todo o país. Poderão também atuar em estradas estaduais e municipais, desde que haja pedido do respectivo governador ou prefeito.
Em nota, o Ministério da Defesa disse que as Forças Armadas só atuariam para garantir a “distribuição de combustíveis nos pontos críticos”, fazer a “escolta de comboios”, proteger “infraestruturas críticas” e desobstruir as vias próximas a refinarias de petróleo e centros de distribuição de combustíveis. “O emprego das Forças Armadas será realizado de forma rápida, enérgica e integrada”, dizia o texto.
Durante a entrevista, porém, os ministros afirmaram que a ação pode ir ainda mais longe: o governo pode “requisitar” temporariamente os caminhões que estejam parados nas pistas; e colocar integrantes das Forças Armadas ou da Polícia Rodoviária Federal (PRF) atrás do volante para levar os veículos até a garagem dos donos ou ao destino da carga.
“A requisição de bens é um item do número de opções que o governo tem em qualquer circunstância. O que o governo está querendo dizer é que, se não conseguirmos garantir o abastecimento necessário e isso coloque em risco a saúde, por exemplo, haverá requisição. E se as coisas chegarem ao extremo da radicalização, o governo vai usar os instrumentos que tem”, disse o general Etchegoyen. Esta medida, porém, não faz parte do decreto de GLO publicado ontem.