Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de setembro de 2019
Depois de quatro anos e quatro meses preso em Curitiba, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto assumiu um posto de trabalho na sede paranaense da CUT (Central Única dos Trabalhadores), entidade ligada ao partido que, há tempos, dá abrigo a um outro emblemático ex-tesoureiro da sigla, Delúbio Soares. Vaccari agora divide uma pequena sala com o colega petista, que também passou a dar expediente na CUT do Paraná desde que deixou a prisão, após ser condenado por lavagem de dinheiro.
Vaccari cumpre pena em regime semiaberto. Condenado pelo crime de corrupção passiva, ele deixou a prisão após ser beneficiado por um indulto natalino. O ex-tesoureiro recebeu o perdão em um processo no qual foi condenado a 24 anos de prisão, por ter intermediado propinas por meio de doações ao PT de US$ 4,5 milhões do estaleiro Keppel Fels.
Embora o PT comemore a saída de Vaccari, o petista ainda corre o risco de voltar para a cadeia. Ele responde a outras 12 ações penais nas justiças do Paraná, São Paulo e do Distrito Federal. Além disso, tem mais duas condenações por corrupção passiva confirmadas no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) que somam 13 anos e quatro meses. A mais recente condenação, de seis anos e oito meses, já foi mantida pelos desembargadores e está em grau de recurso.
Vaccari pretende retomar aos poucos a rotina de sindicalista que o fez ganhar projeção no PT, a ponto de assumir o caixa do partido. Na CUT-PR, prestará assessoria para a presidência, fará análises de conjuntura e contatos com sindicalistas.
O ex-tesoureiro vem recebendo visita de dirigentes do PT. A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), costuma publicar seus encontros com o colega nas redes sociais. Na última quinta-feira, o ex-presidenciável Fernando Haddad também esteve na sede da CUT-PR. Diferentemente de Gleisi, Haddad não divulgou seu encontro na internet.
A vida de Vaccari fora da cadeia repete uma rotina comum a alguns presos da Lava-Jato. O petista é obrigado a usar tornozeleira eletrônica, assim como Delúbio. Desde que assumiu o cargo na CUT, Vaccari tem batido cartão diariamente ali. A direção da central diz que tanto ele como Delúbio foram trabalhar lá porque são poucas as chances de conseguirem uma vaga no mercado. “O Vaccari e o Delúbio são injustiçados. E a CUT acolhe os injustiçados. Acredita piamente na inocência deles”, afirmou Vagner Freitas, presidente nacional da CUT.
“Reinserção social”
Por orientação de seu advogado, Vaccari se recusa a dar entrevista e também não permitiu que fosse feita uma foto sua na sede da central. Discreto, Vaccari tem encontros com os dirigentes locais. A sede da central é pequena, tem pouco movimento. O ex-tesoureiro manteve a porta fechada quase o tempo todo. A placa na entrada indica que o local, antes de virar espaço dos ex-tesoureiros, era usado pelas secretarias de mulheres e de economia solidária. Na mesa de Vaccari, papeis, óculos de leitura e um computador.
Segundo funcionários, Delúbio não apareceu porque tinha ido visitar um sindicato. Ele, ao contrário de Vaccari, não se acanha em exibir a tornozeleira eletrônica. No processo de execução penal de Vaccari, não há especificação sobre o seu horário de trabalho.
O valor do salário de ambos não foi revelado. À época em que foi contratado pela CUT em Brasília, ainda em 2013, a informação que circulou era de que Delúbio receberia R$ 4,5 mil por mês. Vaccari é aposentado como bancário. Para ser beneficiado com o regime semiaberto, teve que fixar residência em Curitiba. Por enquanto, vive provisoriamente na casa de um tio num bairro de classe média da cidade. Sua mulher mora em São Paulo e o visita nos fins de semana junto com a filha e os dois netos, que nasceram no período em que ele estava preso.