Segunda-feira, 20 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de julho de 2022
As ferramentas de transparência de anúncios políticos da Meta, controladora de Facebook e Instagram, e do Google, maiores plataformas digitais em operação no país, são insuficientes para monitorar a circulação e o gasto com conteúdos impulsionados na pré-campanha e durante as eleições. O alerta é do NetLab, laboratório vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e consta num documento tornado público com a assinatura de mais de 90 organizações da sociedade civil e pesquisadores com cobranças de combate à desinformação no pleito.
Embora as prestações de contas sejam obrigadas a informar gastos com os serviços de impulsionamento, apenas por meio de dados fornecidos pelas próprias plataformas é possível ter acesso a parte das estratégias de segmentação de conteúdos e faixas com estimativas de gastos para cada anúncio. Em 2022, as siglas terão disponíveis R$ 4,9 bilhões do fundo eleitoral. Na pré-campanha, fase em que a apresentação das despesas pelos políticos é mais lenta, o descompasso é mais evidente.
Nas últimas eleições gerais, em 2018, o gasto com impulsionamento declarado somou R$ 79,3 milhões, segundo o TSE. O Facebook foi o segundo maior fornecedor para as campanhas, com mais de R$ 23 milhões declarados.
A Meta mantém uma biblioteca de anúncios no ar desde 2018, criada em meio ao escândalo da Cambridge Analytica. Na página, ficam armazenados por sete anos anúncios classificados como sensíveis, isto é, os ligados a temas sociais, política e/ou eleições, com a indicação de quem pagou por eles. A classificação é feita por cada anunciante e revisada pela plataforma, com um sistema automatizado e curadoria humana, antes de o anúncio ser lançado, o que leva alguns dias. Hoje, a maior parte da verificação é automatizada. Já a revisão humana, em Língua Portuguesa, acontece fora do Brasil.
Especialistas e pesquisas já feitas em outros países apontam, no entanto, que há falhas na categorização de anúncios políticos e eleitorais. Pesquisa da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, e da Universidade de Nova York analisou 33,8 milhões de anúncios no Facebook entre 2020 e 2021. Os dados apontam que o Facebook tomou a decisão errada para 83% dos casos. A conta inclui tanto anúncios políticos em excesso quanto ausentes neste grupo. Mais de 13 mil anúncios sensíveis no Brasil não foram identificados.
Outro problema é que não há uma separação entre os diferentes tipos de anúncios marcados como sensíveis (que podem ser políticos, eleitorais, ou sobre questões sociais). É impossível determinar quais anúncios na biblioteca foram classificados por conta de um viés estritamente relacionado a eleições. A junção de temas dificulta a análise e o monitoramento dos gastos de campanha.
“Se quisermos observar como será a campanha eleitoral, não conseguiremos. Não há separação do que é anúncio de eleição ou de outro temas. Além disso, os dados são instáveis e incompletos”, diz Rose Marie Santini, do NetLab.
Sem dados locais
Já o Google lançou no mês passado um relatório de transparência com dados sobre quem paga por propaganda política em suas plataformas, como o YouTube, e em sites parceiros que usam o sistema de publicidade AdSense. A ferramenta já estava disponível em oito países e chegou ao Brasil em meio ao acordo firmado com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O relatório, no entanto, contempla no Brasil apenas anúncios que mencionam partidos políticos e candidatos a cargos de nível federal. O critério é alvo de críticas de especialistas e entrou na mira do Sleeping Giants Brasil, movimento que busca combater o financiamento a desinformação nas plataformas. Em parceria com o Intervozes, o grupo notificou em junho a BlackRock, segunda maior acionista da Alphabet, dona da ferramenta de buscas, alegando que o Google oferece menos transparência ao Brasil.
O diretor Jurídico do Sleeping Giants, Humberto Ribeiro, à frente da notificação, defende que o Google adota um “padrão duplo”, “conferindo tratamento desigual ao que oferece a países do norte global”. Ele lembra que parte das estratégias de desinformação consiste na distribuição de publicidade através de políticos regionais, já que a nível local o perfilamento é mais preciso do que na publicidade em larga escala.
“Optar por deixar de fora a eleição local é impedir com que se tenha publicidade sobre o grosso da propaganda política. Há vereadores que usam verbas de gabinete, dos seus mandatos, atacando urnas eletrônicas ou políticas de combate ao desmatamento. A ferramenta disponibilizada dessa maneira tem ainda como consequência a criação de uma brecha para aqueles que desejam impulsionar essas narrativas”, alerta Ribeiro.
Em nota, o Google afirma que somente oferece dados de publicidade política em nível estadual nos Estados Unidos e na Índia, enquanto Taiwan tem cobertura limitada em algumas municipalidades. “O lançamento do Relatório no Brasil, a cem dias das eleições, representa um importante marco em nosso compromisso de apoiar o processo democrático. Assim como acontece em todos os nossos produtos, nós atualizamos regularmente a ferramenta em resposta ao feedback dos usuários”, afirmou a companhia. As informações são do jornal O Globo.