Terça-feira, 10 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 19 de novembro de 2017
Como essas famílias sentem mais o peso das compras do mês no orçamento, a deflação abre espaço para o consumo. Para elas, o peso dos alimentos é de 21,5% da cesta, e essa diferença aparece no INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que mede a inflação para quem tem rendimento familiar de até cinco mínimos. O indicador subiu 1,83% em 12 meses, enquanto o IPCA, de famílias com renda de até 40 mínimos, está em 2,7%.
“O rendimento cresceu, e a perda foi menor para essas famílias. O valor representa por volta de 34% do volume total destinado ao Bolsa Família e uma média de R$ 145 por família que está nessa faixa de renda”, afirma Camila Saito, economista da Tendências que fez o estudo.
Esse movimento benigno dos preços deve ditar o ritmo de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos próximos trimestres, como aconteceu entre abril e junho. Nesse período, o consumo das famílias subiu 1,4%, a primeira alta depois de nove trimestres.
Esse espaço no orçamento tem gerado mais demanda, e não só nos hipermercados. Como os alimentos são produtos de primeira necessidade e, por isso, a quantidade comprada não varia muito nem mesmo em momentos de crise, quando o preço cai, sobra dinheiro para incrementar o consumo de outros itens.
Pela Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, móveis e eletrodomésticos têm se destacado. A venda desses itens cresceu 16,6% em setembro, no quinto mês consecutivo de alta de dois dígitos na comparação com o mesmo mês do ano passado. No ano, o movimento cresceu 8,8%, a maior alta entre os setores.
“O varejo voltou a crescer, coleciona variações positivas, não há dúvida. A deflação foi de grande ajuda”, afirma o economista Luiz Roberto Cunha.
É a primeira vez que se vê uma deflação tão forte nos alimentos, segundo Cunha. E isso teve impacto na inflação. O economista lembra que o IPCA acumulado em 12 meses recuou de 8,5% em setembro do ano passado para 2,7% em outubro deste ano. Nas suas estimativas, 75% dessa queda ocorreram graças à deflação dos alimentos.
Há cinco meses consecutivos, o comércio vem registrando aumento nas vendas, na comparação com o mesmo mês de 2016. Segundo Ronaldo Labrudi, presidente do GPA (Grupo Pão de Açúcar), a forte deflação de alimentos ajudou o setor supermercadista a superar a grave recessão pela qual o Brasil passou entre 2014 e o início deste ano. Desde que os preços passaram a cair, em meados de 2016, as vendas tomaram a direção oposta, tornando-se um impulso adicional a ramos de negócio como o da marca Assaí, um dos maiores atacarejos do Brasil.
Nos últimos meses, afirma Labrudi, a folga orçamentária das famílias está sendo aplicada também a outros segmentos, puxando negócios que haviam sentido mais a crise, como eletrodomésticos e eletrônicos. O GPA é dono das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, que formam a Via Varejo.
Nessa cadeia de lojas, as vendas vêm crescendo a dois dígitos desde o início de 2017, o que não acontecia desde o terceiro trimestre de 2013, último ano de crescimento mais forte da economia, de 3%. No terceiro trimestre, as vendas das lojas abertas há mais de um ano da Via Varejo cresceram 18,6% e, na internet, o movimento aumentou 24,4%. O grupo anunciou que abrirá de 70 a 80 lojas no ano que vem.
A pensionista Marly de Brito e o filho André, funcionário do Banco do Brasil, que moram em Vila Isabel, perceberam no carrinho de compras os preços 5% mais baixos dos alimentos. Gastam em média R$ 1.200 com alimentação.
Marly diz que constatou uma folga no orçamento, mas, por enquanto, a família ainda não sabe em que vai gastar o dinheiro economizado nas compras:
“Não estamos com nenhuma necessidade de compra urgente para usar essa diferença. Mas a sensação que tivemos é, sim, de folga no orçamento.”