Quinta-feira, 06 de março de 2025
Por Redação O Sul | 5 de agosto de 2024
Integrantes da ala política do governo planejam costurar um pacto com líderes do Congresso para tornar mais célere a indicação do novo presidente do Banco
Central (BC), a ser feita neste segundo semestre pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A estratégia é propor aos parlamentares um cronograma de tramitação no Senado entre os meses de agosto e setembro, para que o escolhido seja encaminhado antes das eleições municipais.
A ideia é defendida por governistas como forma de evitar que o processo de troca de comando no BC cause novos solavancos na economia brasileira. A formalização do nome, na visão dessa ala, também enfraqueceria Campos Neto, que tem sido alvo de críticas de Lula e do PT.
O assunto deve ser tratado nos próximos dias com o presidente da República, a quem caberá a escolha do indicado. Se Lula anunciar o nome até o fim de agosto, conforme o plano, o governo já prepararia o terreno para a sabatina e votação ocorrerem no esforço concentrado de setembro.
Conforma o jornal Valor, a ideia é reforçar as conversas com dois caciques do Senado: o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o titular da Comissão de Constituição e Justiça, Davi Alcolumbre (União-AP), cotado para voltar ao comando do Congresso no ano que vem. Ambos já reclamaram de terem sido surpreendidos por outras indicações a diretorias do BC no passado.
Desde o início do governo petista, o Palácio do Planalto mantém relação próxima tanto com Alcolumbre como com Pacheco, o que seria um fator positivo para construção desse acordo. Pacheco e integrantes da equipe econômica passaram a acumular divergências nos últimos meses sobre a renegociação da dívida dos Estados, mas as fontes à frente dessa negociação não veem isso como um obstáculo.
Além deles, o plano envolve um aceite do atual presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO). Isso porque a CAE é responsável pela sabatina de todos os indicados para o BC.
Vanderlan disse que prefere aguardar para saber qual seria a justificativa
do governo para antecipar a indicação antes de se posicionar. O presidente da CAE evitou falar em um perfil para suceder Campos Neto, mas elogiou a postura de Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC, um dos principais cotados para assumir o cargo.
“Se for o Galípolo não vejo ruído nenhum. É um cara polido, tranquilo, todo mundo gosta dele. Ele não desentoou. Alguns acharam que ele ia divergir demais, mas ele não divergiu e mostrou que é Banco Central. Foi uma grata surpresa para nós”, declarou Vanderlan.
A decisão do presidente da República deve ser tomada com ajuda do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o que reforça o favoritismo de Galípolo, que foi número 2 da pasta antes de ir para o BC. Além disso, o diretor já teve seu nome referendado pela própria CAE em julho do ano passado.
Em paralelo, outros nomes são cogitados nos bastidores. De fora do BC, há também o caso de Marcelo Kayath, ex-diretor do Crédit Suisse e fundador da QMS Capital. Kayath participou da transição e já foi consultado por Lula em outras ocasiões durante este terceiro mandato. Ele chegou a ser convidado para uma diretoria do BC durante o atual mandato do presidente Lula, mas recusou.
A estratégia de estabelecer um cronograma para aprovação do novo presidente do BC também faz parte de uma ofensiva petista para esvaziar os poderes de Campos Neto. Na gestão Lula, ele é acusado frequentemente de ser “bolsonarista” e estar por trás dos juros elevados do País. Ainda que o Legislativo embarque na aprovação de um novo nome para o BC o quanto antes, o atual presidente continuará à frente do órgão até dezembro.
Aliados de Campos Neto reforçam que ele mesmo já destacou a importância de o nome do seu sucessor ser encaminhado com antecedência para garantir a
realização da sabatina na CAE. Eles também acreditam que, por possuir mandato, não haverá qualquer impacto na sua gestão.