Sábado, 05 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 1 de julho de 2025
Retomado pelo PT após uma sequência de derrotas no Congresso Nacional, o discurso de “ricos contra pobres” com foco em mudanças tributárias vem provocando um embate nas redes sociais não só entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e a oposição. Partidos que compõem a base, como PP e União Brasil, além do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), também usaram canais digitais para expor seu descontentamento com a guinada à esquerda.
Em meio à queda de popularidade, o governo passou a investir desde a semana passada no discurso de que propõe a taxação dos mais ricos e a enfatizar a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil para se reaproximar de sua base histórica. Em reação, parlamentares do Centrão argumentam que a intenção da gestão é elevar a cobrança de impostos para a população, movimento que teria sido freado pelo Congresso com a recente derrubada do decreto de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Na manhã de segunda-feira (30), Hugo Motta foi às redes defender o Congresso e acusar o governo de promover “polarização social”, ao comentar a votação que derrubou o decreto que elevava o IOF. Seu partido, o Republicanos, ocupa um ministério na gestão Lula, a pasta de Portos e Aeroportos, com Silvio Costa Filho (PE).
“Quem alimenta o ‘nós contra eles’ acaba governando contra todos”, afirmou Motta em um vídeo compartilhado em sua conta. “A polarização política no Brasil tem cansado muita gente e agora querem criar a polarização social.”
O embate foi levado ao ambiente digital após os perfis do PT divulgarem um vídeo que ressalta que a gestão Lula propõe uma “taxação BBB”, em referência a “bilionários, bancos e bets”.
Esses seriam os segmentos que, segundo os planos do governo, serão mais tributados para a viabilização da proposta de isenção do IR para aqueles que recebem até R$ 5 mil. Uma segunda versão do conteúdo buscou reforçar a ideia de que “os mais pobres carregam o peso dos impostos”.
As postagens foram questionadas por uma paródia publicada nos perfis da recém-formada federação entre União Brasil e PP, siglas que hoje estão à frente de ministérios do governo Lula. Em tom crítico, a publicação, com 113,6 mil visualizações, afirma que “o povo não aguenta mais carregar o peso de 40 ministérios” e o “aumento de despesas”. O vídeo ainda ironiza a animação petista ao afirmar que tudo o que é dito é artificial, “até a inteligência das propagandas”, em referência ao uso de ferramentas de IA para a produção da peça.
Militância mobilizada
Um levantamento feito pela consultoria Bites confirma que a guinada retórica promovida por Lula atingiu o objetivo e ativou a militância petista nas redes: foram 629 mil menções e mais 6 milhões de interações nas principais plataformas abertas.
Enquanto o próprio Lula publicou cinco vezes nas redes sobre o tema e atraiu 208 mil interações, seus ministros fizeram 25 publicações na mesma linha e somaram 71,3 mil interações. Na segunda, o presidente voltou a explorar o tema em uma cerimônia no Planalto:
“Nós queremos fazer deste País um País justo. E ele começa a ser justo pela tributação e depois pela repartição. É por isso que estamos isentando o imposto de renda até R$ 5 mil e trabalhando para que o gás chegue mais barato à casa das pessoas”, disse Lula.
Já as principais respostas da oposição contabilizadas pela Bites somaram 608 menções ao tema e 2,7 milhões de interações. O volume foi inferior ao alcançado pela narrativa defendida pelo governo.
Entre os que entraram no tema está o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que aproveitou para ironizar o vídeo compartilhado pelo PT. Zema afirmou que um lado da “balança” é ocupado pela população sendo “esmagada” pelas “viagens milionárias da primeira-dama Janja, pelo roubo do INSS e pela corrupção”.
A aposta na retórica de “ricos contra pobres” também despertou reações de parlamentares bolsonaristas, como a deputada Bia Kicis (PL-DF), que classificou como “balela” e “mentira” a tentativa da esquerda de “gritar da tribuna que só vai cobrar impostos dos mais ricos”.
O mesmo tom foi adotado pelo governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), que classificou como “antidemocrática” e “imoral” a possibilidade de o assunto ser resolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Agora, recorrem ao Supremo para que o brasileiro pague mais imposto. Não dá para aceitar. O pior é que são as pessoas pagas com o seu dinheiro, advogados pagos com o seu dinheiro, pedindo na Justiça para que você pague mais de IOF”, disse Jorginho em vídeo publicado no domingo (29).
Já Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos principais nomes da tropa de choque do ex-presidente Jair Bolsonaro, disse que, apesar da “vitória suprapartidária” na semana passada, “agora, a mando de Lula, querem judicializar a decisão do Congresso e jogar mais imposto das costas do empreendedor e do trabalhador”. (Com informações do jornal O Globo)