Sábado, 11 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 16 de fevereiro de 2020
“Se você tem dinheiro aplicado no Facebook, desinvista”, disse Gerd Leonhard, guru futurista e autor do livro “Tecnologia versus Humanidade”, nesta quinta-feira (13), na Converge Capital Conference, no Rio de Janeiro. O alemão falou para uma plateia de 300 pessoas, composta de representantes de famílias de alta renda, fundos de investimento, executivos de grandes empresas, institutos e fundações.
Foi a estrela do primeiro dia do evento que se propõe a difundir os conceitos de finanças sustentáveis para influenciar mudanças no portfólio de investimentos entre grandes players do mercado financeiro nacional. “A tecnologia virou nossa religião e nossa droga”, reafirmou o guru à Folha, ao alertar para o “techlash”, tendência de uma mudança de visão sobre o mercado de tecnologia, que passa a ser visto com mais ceticismo diante de fenômenos como as fake news, por exemplo.
Leonhard vislumbra uma crise de desconfiança que afetaria também outras gigantes de tecnologia, como Amazon, Apple e Google. Ele listou preocupações crescentes quanto à violação de privacidade, manipulação de dados e adição.
O palestrante criticou o Facebook por usar do mesmo discurso da indústria de armamentos. “Não são as armas que matam, são as pessoas. Não é o Facebook que gera desinformação, são as pessoas.”
Ao questionar as grandes corporações da nova revolução industrial, Leonhard enfatizou a responsabilidade de todos diante do legado e do mundo que desejam construir no século 21. “O futuro já está aqui. Ele pode ser o céu ou o inferno. Nós criamos ele todos os dias, por ação ou inação”, alertou, para em seguida concluir, com certo pessimismo: “O único jeito de as pessoas mudarem é pela dor ou pelo amor.”
Frases de efeito que foram o fio condutor de uma apresentação em que apontou para 2020 como uma década de mudanças dramáticas diante da maior transformação tecnológica da história da humanidade. Transformações que devem mudar também o portfólio dos investimentos, foco do evento que tem como conceito alinhar os portfólios dos investidores brasileiros aos princípios ambientais, sociais e de governança
Além dos perigos do avanço da tecnologia, os vilões desses novos tempos, segundo o guru futurista, seriam a carne e combustíveis fósseis, pelas externalidades e impactos negativos para o ambiente. “Investir em petróleo, gás e carvão em breve será socialmente indefensável”, alertou.
Fez a plateia de investidores alçar seus smartphones para fotografar o quadro comparativo da composição do índice Dow Jones de 1970 e 2019. Há 50 anos, as empresas tecnologia representavam 3% enquanto hoje correspondem a 17%. O inverso aconteceu na mesma proporção com a setor químico e de mineração, que tinha 17% e caiu para 3%. A participação das empresas de petróleo e gás passou de 10% para 7%.
O guru apresentou também gráficos sobre a diminuição do consumo de proteína animal e a força do consumo vegano, cuja projeção é chegar a 25% do mercado, entre 2025 e 2040.
O painel “As perspectivas dos estudos sobre futuro diante dos desafios globais” contou ainda com Jaqueline Weigel, fundadora do W Futurismo, e com o cientista político Sohail Inayatullah, consultor da Unesco.
Jaqueline traçou um panorama sombrio sobre o fato de o Acordo de Paris não está sendo levado a sério frente à emergência climática. “Os grandes investidores precisam discutir o que o seu capital está nutrindo”, disse. “Mudar o mundo é mudar a si mesmo e o seu entorno.”
Ao traçar cenários e tendências, destacou a necessidade de a plateia se conectar com uma ideia de futuro. “Quem está tomando as decisões ainda são pessoas que querem preservar o passado e sabotam quem está tentando pensar no futuro”, avaliou para uma plateia cheia de representante das novas gerações de algumas das maiores fortunas do país.
Segundo a futurista, o dinheiro, infelizmente, ainda não encontrou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, os 17 ODSs estabelecidos pela ONU para serem alcançados até 2030. “Empresas que não escolherem uma dessas caixinhas vão perder mercado.