Terça-feira, 03 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de novembro de 2024
Do início dos anos 2000 até agora, o Brasil passou por uma grande mudança na sua pauta de exportações, com os setores agropecuário e indústria extrativa, centrados em commodities agrícolas e minerais, ganhando participação ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, a indústria de transformação foi deixando de ser dominante, respondendo atualmente por algo em torno de 59%.
Essa é a análise de Lia Valls Pereira, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisadora do Programa de Economia e de Pós-Graduação em Relação Internacional e pesquisadora associada à Fundação Getulio Vargas (FVG):
“O Brasil perdeu posições nos fluxos de comércio global. Nos anos 90, o País aparecia, nas estatísticas da OMC [Organização Mundial de Comércio], entre os dez maiores exportadores siderúrgicos. Às vezes, entre os de automóveis. “Isso tudo não temos mais. Hoje, ao se olhar a indústria de transformação, o setor mais importante, em termos de participação, é o de produtos alimentícios”, afirma.
Segundo ela, há mais de 20 anos tem ocorrido uma grande mudança na composição da nossa pauta de exportação. Somando-se agropecuária com a indústria extrativa, juntas respondiam por 17,7% das exportações brasileiras enquanto a indústria de transformação era 82,3%. Hoje, as duas respondem por 46% e o setor de transformação, por 54%. Vemos nessa mudança uma crescente participação da agricultura e também de parte da indústria extrativa.
Ao mesmo tempo, verifica-se um declínio da participação da indústria de transformação. A partir de 2009, vemos o boom das commodities com o setor agropecuário crescendo em ritmo de dois dígitos, 10% a 12%, até chegar a 20% em 2020. A extrativa, impulsionada muito pelo petróleo, também cresceu bem. De dominante, a indústria de transformação passou a ter pouco mais de metade das exportações, 58% a 60%.
“O Brasil passou aproveitar oportunidades, com vantagem comparativa nos setores agropecuário e extrativo, que tiveram o benefício do grande demandante do mercado mundial, a China”, acrescenta a especialista. “O gigante asiático passou a demandar esses recursos e o Brasil respondeu. Ao se olhar a participação nos fluxos de comércio, nos anos 90, o País aparecia nas estatística da OMC entre os 10 maiores exportadores siderúrgicos, às vezes, entre os de automóveis… Isso tudo não temos mais.”
Hoje, ao se olhar a indústria de transformação, o setor mais importante em termos de participação é o de produtos alimentícios, que sempre foi alta. Saiu de 22% em 2003 e no ano passado atingiu 34%. E tivemos, também, uma a concentração nos bens ligados a recursos naturais.
E quanto aos setores de produtos de maior valor agregado, como máquinas e equipamentos? Para Lia, o setor industrial está sempre preocupado com os produtos de maior valor adicionado, como a fabricação de máquinas e equipamentos. Nunca teve uma participação tão alta, mas aí entram a questão da tecnológica, da competitividade:
“O último número, de 2023, é de 7,7%, que mostra queda em relação aos 8% de 2022. Não caiu tanto. Em veículos a participação não decresce muito, mas também não avança. Veículos, automotores, reboques e carrocerias, que era 10%, está agora, 20 anos depois, em 7%”.
Mercado global
Indagada sobre quais são os produtos industriais que mostram mais poder de entrada no mercado global, ela responde que são os de setores que têm mais dinamismo, ou seja, com maior conteúdo tecnológico. “O Brasil não está entre os dez maiores em nenhum deles”, constata. “Nossa posição na fabricação de equipamentos de informática, elétrica e eletrônica, que em 2003 atingia 4,1%, pelo último dado do IBGE, no ano passado, era de 0,9%. Uma forte queda. Podemos dizer que o Brasil perdeu relevância.”
Ao se comparar com o início do ano 2000, a competição do mercado internacional ficou muito mais acirrada. A China desloca muita exportação, então se fala em prática desleal de comércio. O fato é que a China tem uma escala muito grande de produção e precisa alocar essa produção, exportação excesso de capacidade. Para o Brasil, é lógico que a competição ficou mais complicada.