Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 21 de março de 2021
Enquanto o governo Bolsonaro não passa a marcha para acelerar a vacinação no Brasil e uma nova retração econômica começa a bater na porta, cresce entre empresários e executivos uma cobrança para que as autoridades acelerem o ritmo de imunização. Esse é o caminho para o controle das contas públicas e a retomada da economia, defende o coro que tem, dentre eles, o presidente do banco Citi no Brasil, Marcelo Marangon.
Em entrevista ele faz um apelo para que haja uma mobilização geral pela vacinação contra a covid-19 no Brasil, colocada como a primeira condição para que o País saia do buraco. “Quanto mais demorarmos para vacinar a nossa população, mais lenta será a retomada e os impactos vão ficando mais graves”, afirma o executivo. Ele também vê a imunização como fundamental para que o governo possa retomar a disciplina fiscal.
Confira os principais trechos da entrevista:
1) A lentidão na imunização dos brasileiros deve respingar na retomada econômica?
A recuperação econômica está diretamente relacionada à capacidade de vacinação. É urgente que todos se mobilizem para que possamos acelerar esse processo de vacinação. O que vai trazer de volta investimentos, geração de emprego, renda, consumo, fazendo esse ciclo funcionar novamente, é a vacinação. Quanto mais demorarmos para vacinar a nossa população, mais lenta será a retomada e os impactos vão ficando mais graves. Para a economia, projetamos queda de 0,5% para o primeiro trimestre deste ano, com estabilidade no segundo. Se conseguirmos acelerar a vacinação, podemos ter crescimento no terceiro e no quarto trimestres. Mas as projeções de mercado estão se deteriorando e isso nos preocupa.
2) A PEC Emergencial saiu desidratada. Qual a sua crença na agenda reformista e liberal do governo Bolsonaro?
A agenda de reformas é fundamental para a estabilidade e para a estabilidade fiscal do País, que é crucial para a retomada de investimentos e a geração de crescimento econômico. Colocando a política de lado, precisamos das reformas. Isso nos preocupa e temos um senso de urgência. Precisamos agir rápido e com consistência.
3) A política, porém, está cada vez mais enraizada no dia a dia brasileiro. Na semana passada, a agenda de 2022 foi antecipada com a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como o investidor estrangeiro está digerindo tudo isso?
A primeira preocupação é a situação fiscal do País. Independentemente de liderança política, o que se espera é que as decisões sejam tomadas na direção correta, que é uma austeridade fiscal. A crise e a pandemia nos levaram a uma situação fiscal insustentável, então, precisamos tomar as medidas adequadas. Por sua vez, os gastos públicos estão diretamente relacionados ao combate à pandemia. Voltamos à vacinação. Quanto antes conseguirmos vacinar, podemos acelerar a retomada econômica, que terá impacto positivo na situação fiscal. A preocupação do investidor é que esses assuntos sejam endereçados. E nós entendemos a dinâmica da democracia. Nos diálogos que temos com o Ministério da Economia, vemos ainda o foco com a agenda fiscal. Há um contexto complexo, mas agenda ainda está lá, e devidamente suportada pelo setor financeiro.
4) O aumento dos juros antes do previsto pode respingar na demanda por crédito em 2021?
Temos visto o aumento sucessivo da inflação, fruto de commodities e câmbio. Não é demanda local. O câmbio vem desvalorizando, acima do que julgamos adequado ou relacionado à situação econômica do País, e isso é fruto da falta de confiança no lado fiscal. Temos preocupação com juros e vemos aumento da Selic, que deve sair de 2% para 5% até o fim do ano, em seis aumentos sucessivos de 0,5 pontos porcentuais. Mas isso não deve afetar a demanda por crédito nem o repasse. Estruturalmente, os juros estão baixos. O juro real negativo não condiz com a situação fiscal que temos. Política monetária vai trazer equilíbrio e não vai afetar investimentos, nem deveria prejudicar a retomada da economia.