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Por Redação O Sul | 1 de maio de 2018
Quarenta anos atrás, em julho de 1978, o primeiro “bebê de proveta” do mundo, Louise Joy Brown, nasceu em um hospital britânico na cidade industrial de Oldham, abrindo uma mudança radical na criação da vida humana. A partir daí, ficou claro que a ciência – e não Deus – estava no comando.
Desde então, a fertilização in vitro e tecnologias relacionadas produziram cerca de 7 milhões de bebês, aproximadamente a população combinada de Paris, Nairóbi e Kioto, e as clínicas de fertilidade do mundo se transformaram em um negócio de US$ 17 bilhões.
Os procedimentos amplificaram questões profundas para os teólogos: quando começa a vida? Se for na concepção, é pecado destruir um óvulo fertilizado? O que define um pai? A mãe é a mulher que fornece o óvulo ou a que dá à luz? Se o espermatozoide de um homem fertiliza um óvulo da mulher com quem ele não é casado, isso constitui um adultério?
As questões morais tornam-se cada vez mais complexas, à medida que avançam pesquisas de edição genética, que permitem aos pais escolher ou “corrigir” certas características preferidas; criar úteros artificiais que poderiam incubar fetos fora do corpo por nove meses; e aperfeiçoar técnicas para produzir bebês que compartilham material genético de mais de duas pessoas.
Há enormes riscos, tanto científicos como morais. As técnicas poderiam ser usadas para produzir bebês com visão e inteligência sobre-humanas. Outros efeitos podem resultar em mudanças fundamentais não apenas nos corpos, mas também na natureza humana.
Alguns líderes religiosos se opõem ao uso de edição genética em embriões ou por maneiras que poderiam afetar as gerações futuras, argumentando que o genoma humano é sagrado e que editá-lo viola o plano de Deus para a Humanidade. As academias nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA convidaram críticos religiosos da tecnologia, e o Vaticano está convocando reuniões para discutir implicações morais desses métodos – uma delas será realizada em breve em Roma.
Na lista de convidados está o geneticista George Church, da Universidade Harvard, integrante de uma equipe que anunciou planos em 2016 para usar uma ferramenta que criaria genomas humanos sintéticos para pesquisa médica avançada.
Desconforto
O surgimento da reprodução assistida, quatro décadas atrás, também provocou alarme. Estudiosos das principais religiões do mundo expressaram desconforto com a tecnologia. Algumas comunidades foram mais receptivas – entre elas, hindus, budistas e protestantes.
O imã egípcio Gad El-Haq Ali Gad El-Haq, um dos principais líderes muçulmanos no início dos anos 1980, emitiu uma fatwa, ou decisão, permitindo a fertilização in vitro e procedimentos similares, desde que envolvessem um marido e uma mulher e nenhum óvulo ou espermatozoide de um terceiro. O religioso comparou a esterilidade a uma doença e concluiu que a reprodução assistida poderia ser uma cura. Seu documento é exibido na parede de muitas clínicas de fertilidade em países muçulmanos.
No Vaticano, a reação foi diferente. Quando nasceu Louise Brown, o cardeal Albino Luciani, que logo se tornaria o Papa João Paulo I, parabenizou seus pais e desejou ao bebê uma vida feliz e abençoada, mas reconheceu que a fertilização in vitro exigia uma resposta moral mais profunda. Ela veio em 1987, com a publicação do documento “Donum vitae” (“Dom da vida”), quando a Igreja afirmou que a associação do sexo à tecnologia, que ocorre na reprodução assistida e na inseminação artificial, é imoral.