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Por Redação O Sul | 5 de junho de 2018
O ex-presidente Lula afirmou nesta terça-feira (5) em depoimento à Justiça Federal que o país vive um momento de “denuncismo” e que está “cansado de mentiras”. Esta foi a primeira declaração pública do petista desde que foi preso há quase dois meses.
Ele depôs como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) na ação penal que apura suposto pagamento de propina a membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016.
“Lamento que venha uma denúncia de corrupção de delegado [do COI] oito anos depois. Não sei quem fez a denúncia, nem quero saber. Estamos vivendo no momento de denuncismo, em que muita gente”, disse, antes de ser interrompido pelo juiz Marcelo Bretas.
Ao longo do depoimento, o magistrado evitou permitir que Lula fizesse discursos de ataque à Justiça. Logo no início do depoimento, Bretas fez o comunicado de praxe em que avisa testemunhas de que ela está obrigada a falar a verdade. “Não acredito que haja um brasileiro mais em busca da verdade do que eu. Estou cansado de mentiras. Quero a verdade”, disse ele, sendo interrompido pela primeira vez por Bretas.
O magistrado também prestou reverência ao ex-presidente ao fim do depoimento. Declarou que o petista era “uma pessoa importante para o Brasil” e comentou que esteve num comício de Lula na avenida presidente Vargas.
“Tinha 18, 19 anos e estava num comício na avenida Presidente Vargas com 1 milhão de pessoas. Estava lá, usando boné com o seu nome”, disse Bretas.”Quando fizer um novo comício, vou te chamar”, respondeu Lula, para riso dos presentes à audiência.
Lula falou de dentro da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso desde abril. O petista vestia o mesmo terno e gravata que utilizou no dia da vitória da cidade brasileira em Copenhague.
Minutos antes do depoimento, Lula procurou demonstrar bom humor. “Estou bonito hein? Essa gravata é da conquista das Olimpíadas”, disse ele, ao se ver no vídeo. “Carrego ela até ficar desmontada”, disse o ex-presidente sobre a gravata verde, amarela e azul-marinho.
Antes do depoimento gravado, Lula pôde falar com Bretas. O juiz arriscou um chiste neste momento. “Não fala mal de mim que eu estou ouvindo, hein.”
“Eu sei. Estou com microfone aqui na frente”, disse Lula.
O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) assistiu pessoalmente ao depoimento. Antes do início da audiência, o emedebista pôde conversar rapidamente com o ex-presidente para prestar condolências pela morte de dona Marisa Letícia. “Estava preso quando dona Marisa faleceu. Presidente, meu abraço ao senhor e meus sentimentos pelo falecimento de dona Marisa. Um abraço meu, da Adriana e dos meus filhos”, disse.
“Obrigado Sérgio”, respondeu o petista.
Olimpíada
Lula negou que tenha ocorrido compra de voto de membros do COI, como acusa o MPF (Ministério Público Federal). O ex-presidente relatou como abordou chefes de Estado e eleitores do comitê. “Eu não sei qual o critério do cidadão que diz que foi trapaça [a escolha do Rio de Janeiro]. Esse cidadão não deve saber nada. O ambiente no COI era de muita seriedade”, declarou o ex-presidente.
O MPF acusa Cabral, o ex-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) Carlos Arthur Nuzman e o ex-diretor da entidade Leonardo Gryner de ter pago US$ 2 milhões ao senegalês Lamine Diack. Há a suspeita de que outros membros do COI tenham recebido valores.
O ex-presidente afirmou que era natural o apoio de delegados africanos à candidatura brasileira.
“A África apoiar o Brasil era quase uma coisa óbvia. O Brasil era o país mais próximo da África. Eu viajei 34 vezes para África, visitei 29 países, abri 19 embaixadas na África. Isso dava aos africanos quase uma irmandade com Brasil”, afirmou ele.