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Variedades Maria Betânia diz que CDs são “paupérrimos” e explica veto de composição a gravação de “Evidências”

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Cantora volta com disco que fala da noite das boates e da realidade soturna da pandemia. (Foto: Jorge Bispo/Divulgação)

Para Maria Bethânia, 75 anos, a decisão de intitular de “Noturno” o seu novo álbum – que chega esta sexta-feira (30) ao streaming e às poucas lojas que ainda vendem CDs – era praticamente uma dívida.

“Minha vida, desde os 17 anos, é a hora do show, é a noite. Eu até que inventei uns shows à tarde, porque gosto muito do dia e gosto de dormir cedo”, conta ela. “Mas a noite tem um atrativo para a criatividade e para a música, particularmente.”

Em seu primeiro álbum autoral, com inéditas, desde “Meus quintais” (2014), a cantora não se atém, contudo, apenas à vida noturna dos teatros e boates – na qual foi iniciada em 1965 e que referencia ao recriar “Bar da noite”, samba-canção de Bidu Reis e Haroldo Barbosa, pinçada do repertório de Nora Ney (“bar que é o refúgio barato/dos fracassados no amor”).

“O disco é ‘noturno’ também por causa de uma sensação geral com todas as dificuldades. Teve a pandemia que escureceu e que entristeceu o mundo, deixando a sensibilidade do artista aguçada. E também as realidades que o mundo vive, não só por causa da pandemia, mas das ideologias… tudo é muito difícil. As florestas acabando… são muitos assuntos, que para mim são soturnos-noturnos”, enumera.

“Pioneira na campanha a favor da vacina”, Maria Bethânia sentiu muito o isolamento provocado pela Covid-19. Desde o início da quarentena, encontrou o irmão Caetano, “que está recolhidíssimo”, umas duas vezes apenas. Não conseguiu ir a Santo Amaro, sua cidade natal, para realizar um dos seus maiores desejos, que é ver a imagem de Nossa Senhora. E o pior de tudo:

“Foram dois anos sem poder me apresentar, sem poder subir no palco, é triste”, ressente-se ela, que no entanto em fevereiro fez a sua primeira live, na Cidade das Artes, no Rio. “Foi uma delícia, com todas as dificuldades. Todo mundo vestido de louco, de astronauta, aquelas coisas esquisitas. Todos os cuidados necessários, mas tudo muito estranho, muito fora do comum. De qualquer forma, poder me expressar é um prêmio.”

“Noturno”, Bethânia gravou em outubro do ano passado em meio a um clima de proibição “insuportável”:

“A cantora tem que olhar para o músico, saber qual é a vibração, sentir o ambiente. Fiquei dentro de uma casinha de acrílico. E fizemos testes e testes e testes… Muito ruim, mas era imprescindível, eu não aguentava mais e quis fazer. Eu tinha um repertório que vinha lá do Manouche (casa no Rio onde ela apresentou, em 2019, o show intimista “Claros breus”), outras canções que vieram, era uma urgência para mim.”

Foi um disco feito com poucos músicos. Entre eles, dois estreantes na discografia de Bethânia: o pianista Zé Manoel e o violonista João Camarero, que a cantora define como “extraordinários e competentíssimos”.

“Eles chegaram e entenderam logo as dificuldades do momento, o meu desejo e o que eu precisava fazer”, diz. “Eu adoro os silêncios e as esperas do Zé, os espaços, os vazios… era tudo o que eu queria. O repertório era isso.”

Em “Noturno”, Maria Bethânia recorre a fornecedores habituais de canções, como o baiano Roque Ferreira (“Lapa santa”, “Música música”), o paraibano Chico César (“Luminosidade”) e a gaúcha Adriana Calcanhotto, que se saiu com a canção mais forte (e das mais recentes) do disco: “Dois de junho”, sobre a morte, em 2020, do menino Miguel, de 5 anos, ao cair do alto de um prédio no Recife enquanto estava sob os cuidados da patroa de sua mãe. O caso, de repercussão nacional, virou uma música que a cantora tomou “como uma peça de teatro, uma história narrada”:

“É uma narrativa muito livre, muito crua, que eu tive sorte de me sentir capaz de interpretar, com toda a dramaticidade, a violência e a dor que ela tem.”

Já entre as surpresas de “Noturno”, está a presença de “O sopro do fole”, um baião composto pelo sobrinho Zeca Veloso, filho de Caetano, com inspiração na obra da tia.

“É estranho o Zeca tão carioca, tão urbano, ter feito uma canção quase que regional. É uma sensibilidade aguçada e talento de sobra. Foi uma das maiores emoções desse disco”,  conta Bethânia, que ainda gravou “Prudência”, de outro talento jovem da MPB: Tim Bernardes, do grupo O Terno. “Caetano ouviu e achou que fosse uma dessas pérolas antigas do cancioneiro nacional que eu escolho para os meus discos. Mas era do Tim.”

Entre incursões pelo flamenco (com “Vidalita”, da espanhola Mayte Martín, que cantou em espanhol com interpretação “brasileira e baiana”) e o samba carioca (a inédita “Cria da comunidade”, de Xande de Pilares e Serginho Meriti), Bethânia fechou o repertório de “Noturno” – ao qual ficou faltando apenas uma de suas mais estimadas canções do repertório de “Claros breus”: “Evidências”, hit de Chitãozinho & Xororó, cuja gravação não foi autorizada por um dos seus autores, o cantor José Augusto.

“Ele está no direito, não gosta da cantora, não deixa ela cantar”, limita-se a dizer Bethânia.

A demora da fabricação do CD atrasou algumas semanas o lançamento de “Noturno”.

“Na verdade, eu nem acho que fosse ter disco, porque não tem nem loja que venda! Mas a (gravadora) Biscoito Fino tem a tradição de ter disco e existem colecionadores, pessoas que gostam de ter o CD. Adoraria que fosse um LP, porque acho sempre que é mais nobre, é preto, é chique… não é essa coisa cintilante de quinta categoria. Acho o CD paupérrimo, mas é o que temos”, reclama Bethânia, que diz não buscar distração na música, nem em tempos pandêmicos. “Música, para mim, é estudo. Quando eu quero fazer alguma coisa eu ouço muitas músicas, muitos cantores, mas não sou muito de me divertir com música. Se tiver barulho, eu durmo, mas não se tiver música. Ela é o meu trabalho, tem uma antena esquisita aí ligada.”

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