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Por Redação O Sul | 16 de abril de 2019
Há duas semanas, os grandes estúdios de cinema exibiram seus lançamentos previstos em 2019 para executivos em Las Vegas (EUA), em uma série de elaboradas apresentações de marketing. É um ritual anual: “aqui estão os hits em potencial que vamos entregar”, é como se os estúdios dissessem.
Pela primeira vez, a importância da diversidade na tela passou a ser mais do que um simples discurso. A Paramount apresentou uma aventura em família (“Dora e a cidade perdida”) com um elenco predominantemente latino. A Warner Bros promoveu uma sequência de “Shaft”, estrelada por Samuel L. Jackson e Regina King. A Universal apresentou uma comédia protagonizada por mulheres negras (“Little”), um filme de animação sobre a busca de uma garota chinesa (“Abominable”) e um musical de verão (“Yesterday”) com um ator de ascendência indiana no papel principal.
Mas basta olhar com um pouco mais de atenção para esses filmes — e para quem os está dirigindo — que a narrativa de inclusão de Hollywood se desfaz em um ponto crucial. Mesmo depois de anos sendo criticados por marginalizar cineastas mulheres, os estúdios como um todo continuam a depender esmagadoramente de homens para liderar produções.
Por que isso acontece?
Os estúdios têm várias explicações (alguns diriam desculpas), mas um grande motivo, segundo eles, envolve a falta de pressão econômica. Os espectadores têm respondido favoravelmente a elencos e histórias com diversidade (em filmes como “Nós”, “Crazy Rich Asians” e “Pantera Negra”), levando os estúdios a oferecer mais e mais. No entanto, poucos espectadores decidem comprar ingressos com base no gênero do cineasta.
“Será que o consumidor se importa com a forma como algo é feito versus o que vê na tela?”, questionou Cathy Schulman, produtora vencedora do Oscar (“Crash”), em uma entrevista. “Acho que isso está se tornando cada vez mais importante, mas eu diria que o “business” demora muito para ver essa conectividade.”
Disney
Durante sua sessão em 3 de abril no CinemaCon — uma convenção organizada pela Associação Nacional de Donos de Teatros —, a Disney revelou uma lista de 19 filmes para o restante de 2019, incluindo um lote de produções da recém-adquirida 20th Century Fox. Apenas duas são de mulheres: Jennifer Lee codirigiu “Frozen 2” e Roxann Dawson dirigiu “Breakthrough”, um drama baseado na fé.
A Warner Bros tem 15 filmes, três dos quais têm uma mulher por trás da câmera. A Paramount atualmente planeja lançar sete filmes até o final do ano, e o thriller “The Rhythm Section” é o único dirigido por uma mulher, Reed Morano, mais conhecida pelo seu trabalho como diretora de fotografia.
A Universal Studios tem 15 filmes com datas de lançamento até dezembro. Quatro vêm de mulheres, incluindo “Little”, dirigido por Tina Gordon, e “Queen & Slim”, um drama previsto para novembro e dirigido por Melina Matsoukas.
A Sony Pictures optou por não fazer uma apresentação no CinemaCon. O estúdio tem 13 filmes no restante de sua programação de 2019. As mulheres estão dirigindo três deles: “Charlie’s Angels” (Elizabeth Banks); “Um lindo dia no bairro” (Marielle Heller); e “Mulheres pequenas” (Greta Gerwig).
Disney, Warner, Universal e Sony não responderam a pedidos de entrevista ou se recusaram a comentar.
Já a Paramount fez um mea-culpa em um comunicado: “Reconhecemos que, como indústria, precisamos oferecer mais oportunidades para diretoras mulheres, e na Paramount nos comprometemos publicamente a fazer um trabalho melhor”.
O estúdio acrescentou que, sob uma iniciativa anunciada em fevereiro, todos os seus projetos de cinema e televisão devem apresentar um “plano de diversidade e inclusão” antes de serem aprovados.
Cenário estagnado
Martha Lauzen, diretora executiva do Centro para o Estudo da Mulher na Televisão e do Cinema e professora da Universidade Estadual de San Diego, citou uma pesquisa que mostrou que, em 2018, as mulheres representaram 8% dos diretores que trabalharam nos 250 filmes de maior bilheteria. Esse índice é 1 ponto percentual mais baixo do que em 1998.
“Nós não vimos nenhum aumento significativo na porcentagem de mulheres diretoras de cinema nos últimos 20 anos”, conclui ela.