Quinta-feira, 06 de março de 2025
Por Redação O Sul | 4 de dezembro de 2024
Ele iniciou o mandato em setembro
Foto: ReproduçãoO governo de Michel Barnier, primeiro-ministro da França, foi derrubado nesta quarta-feira (4), após o Parlamento aprovar um voto de desconfiança. Esse é o primeiro governo francês a ser derrotado em um voto de desconfiança desde 1962 com a administração de Georges Pompidou e quando Charles de Gaulle era presidente. Barnier se torna o primeiro-ministro com o menor mandato na história do país — ele iniciou o mandato há três meses. A aprovação da moção de censura tornou o governo de Barnier o mais curto da Quinta República francesa, que começou em 1958.
A votação uniu a esquerda e a direita. Um total de 331 de 577 legisladores se colocaram a favor da medida que derruba o governo da França. Espera-se agora que o gabinete de Barnier atue de maneira interina até que o presidente Emmanuel Macron nomeie uma nova liderança. Macron nomeou o premiê para liderar um governo minoritário após uma eleição antecipada que dividiu o Parlamento francês.
A situação se tornou instável e pareceu insustentável na segunda-feira (2), quando Barnier foi forçado a usar um mecanismo constitucional arriscado que contornou uma votação sobre o Orçamento de 2025. Isso permitiu que legisladores rivais da esquerda, que há muito tempo juravam derrubá-lo, convocassem uma moção de confiança em resposta. O Reunião Nacional, partido de direita comandado por Marine Le Pen, apoiou a medida nesta quarta.
Ao se defender na Assembleia Nacional nesta quarta, Barnier afirmou aos parlamentares que “não estava com medo”, mas alertou que tirá-lo do poder tornaria “tudo mais difícil”.
Na França, o primeiro-ministro governa junto ao presidente, que pode tanto convocar eleições para eleger um premiê quanto indicar um nome fora do pleito. Os franceses foram às urnas em junho para as eleições parlamentares. O bloco da esquerda venceu, barrando a favorita Reunião Nacional, da extrema direita, mas não alcançando a maioria necessária para formar governo.
Macron decidiu, então, escolher um primeiro-ministro de centro-direita, em decisão que gerou uma onda de protestos e conversas inéditas entre a esquerda e a extrema direita para derrubar a escolha do presidente.
Nesta quarta, eles votaram em conjunto para aprovar a moção de censura. Ao todo, 331 dos 574 deputados se posicionaram a favor da medida. A votação precisava do apoio de pelo menos 288 deputados para ser aprovada. Sozinhos, os grupos de oposição — extrema direita e o bloco de esquerda — somam quase 330 cadeiras.
A insatisfação com a indicação de Macron de um nome que nem sequer participou das eleições foi crescendo entre os deputados ao longo e culminou na rejeição, esta semana, da proposta de Orçamento apresentada por Barnier.
Também contou para a crise um momento tenso na economia da França — a segunda maior da União Europeia. O prêmio de risco da dívida francesa está quase igual ao da Grécia, um dos piores do continente.
Além disso, a instabilidade na França e a crise de governo na Alemanha, que precisou antecipar as eleições legislativas para 23 de fevereiro, podem afetar a União Europeia a poucas semanas do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.
Em maio, o presidente Emmanuel Macron surpreendeu o país e também antecipou as legislações, que estavam previstas para 2027, após a vitória da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu na França.
A antecipação do pleito foi uma jogada política de Macron diante do resultado ruim de seu partido e do avanço da extrema direita nas eleições para o Parlamento europeu — o Legislativo de todos os países da União Europeia, com sede em Bruxelas.
As pesquisas de opinião apontavam o Reunião Nacional, sigla de extrema direita de Marine Le Pen, como favorito. Mas a esquerda, que se uniu em um bloco amplo, surpreendeu e terminou em primeiro na votação. Mesmo assim, o bloco não conseguiu formar maioria. Tentou aliança com a centro-direita, de Macron, que rejeitou o nome proposto pela esquerda para governar e desfez a parceria.