Domingo, 29 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 2 de fevereiro de 2018
Devotos de Iemanjá lotaram a praia de Capão da Canoa na madrugada desta sexta-feira (02), feriado de Navegantes. Milhares de pessoas circularam pela orla deixando oferendas à protetora das águas e formando filas para tomar passe. Thais Santos, 29 anos, acompanhada de duas amigas não deixou de ressaltar sua devoção que nasceu há pelo menos 20 anos. Levou um barco de madeira com canjica e mel, segundo ela, presentes que agradam Nossa Senhora dos Navegantes. Sempre que possível ela viaja de Cruz Alta para o Litoral Norte e celebra a data próximo ao mar. “Este é o ano da colheita, viemos em busca de prosperidade e benção”, conta Thais, que também ascendeu velas e incensos esperando mais luz para a sua vida.
As lembranças foram deixadas na areia, porém, o barco de madeira foi levado até o mar. É aí que surge um alerta dado pelo Fonsanpotma (Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana). Há quatro anos, o projeto Iemanjá OriEnta foi criado com intuito de conscientizar o público durante os encontros de sincretismo de Iemanjá. Preservar a limpeza das águas e da praia é o principal objetivo da iniciativa, que é coordenada por Ya Vera Soares. “As águas são sagradas, deixar presentes para Iemanjá é válido, porém, orientamos para que sejam orgânicos, como flores”, destaca YaVera.
Os integrantes do Fonsanpotma reprovam oferendas que poluem, como por exemplo, os barcos de madeira como o que Thais Santos largou no mar, e também pentes e espelhos. “Além de poluir as águas, esses objetos também podem ferir os veranistas”, alerta a coordenadora do Fórum organizador do projeto de preservação ambiental. Acolher e acreditar na força da natureza é um dever do ser humano, segundo Ya Vera, que também ressalta que Iemanjá não precisa destes objetos e, sim, da fé.
Em toda cidade portuária é feriado neste dia 02 de fevereiro e muitas pessoas costumam se mobilizar para mostrar a devoção à Iemanjá, orixá com descendência africana. E de acordo com Ya Vera, as pessoas não participam da procissão pela fé em Nossa Senhora dos Navegantes, mas sim, pela fé em Iemanjá. “Isso acontece porque o público sente carinho pelo mar”, conta ela, que em contraponto diz que mesmo com o sentimento pela protetora das águas, permanece o preconceito com as religiões africanas.
“Estamos aqui para tentar fazer com que o público deixe de lado a intolerância”, afirma Ya Vera. Os integrantes de casas tradicionais de religião, os chamados terreiros, vão até a praia para aproveitar a sintonia do público com Iemanjá e alertar sobre o desrespeito com a religião e com tudo aquilo que é entendido como natural. “O mar é nosso altar, assim como a natureza”, finaliza a coordenadora do Fonsanpotma. Desde quinta-feira (01) até a noite desta sexta-feira (02), o grupo estará presente na guarita 80 de Capão da Canoa, em frente a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes. É estimado que 50 mil pessoas passem pela tenda montada pelo projeto Iemanjá OriEnta. (Marysol Cooper/ O Sul)