Quinta-feira, 17 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de maio de 2020
Familiares de vítimas muçulmanas do coronavírus afirmam que chegam a levar três semanas para conseguir uma sepultura que respeite os ritos islâmicos
Foto: ReproduçãoFamiliares de vítimas muçulmanas do coronavírus na França denunciam que chegam a levar três semanas para conseguir uma sepultura que respeite os ritos islâmicos nos cemitérios do país. A crise da Covid-19 expõe a ausência de espaços específicos para a essa comunidade, embora a França seja um dos países laicos que mais abrigam muçulmanos no mundo.
Habitualmente, a maioria dos muçulmanos prefere repatriar o corpo do defunto para o país de origem, em geral na África. Segundo o CFCM (Conselho Francês do Culto Muçulmano), essa é a opção preferida em 80% dos casos.
Entretanto, o fechamento das fronteiras europeias, determinado para controlar a epidemia, impôs a necessidade de os sepultamentos ocorrerem na própria França. O problema leva famílias e associações a apelarem para a Justiça, em busca de uma solução.
“É uma situação horrível. Nossos avós e pais queriam ser enterrados nos seus países de origem, mas nós somos daqui, e aqui queremos ser sepultados. É uma questão que está em aberto para as próximas gerações”, afirma Samad Akrach, presidente da associação Tahara, especializada no tema.
Akrach já perdeu as contas de quantas ligações recebeu de famílias muçulmanas que não sabiam como fazer para enterrar o parente falecido nas últimas semanas. Ele escreveu para as prefeituras de diversas cidades da periferia de Paris para pedir ajuda, porém quase não obteve retornos – e todos, garante, foram negativos.
Iniciativas isoladas
Na região parisiense e no norte francês, alguns prefeitos tomaram a iniciativa de ampliar as zonas reservadas para muçulmanos nos cemitérios, com as covas voltadas para a Meca e enterros realizados rapidamente após a morte, conforme determina o rito fúnebre da religião.
É o caso do prefeito de Gennevilliers, que determinou a realização imediata de obras para aumentar a zona islâmica do principal cemitério municipal. “Escrevi para a Secretaria de Segurança para obrigar meus colegas a abrirem áreas para muçulmanos em suas cidades”, disse o gestor, Patrice Leclerc, do Partido Comunista Francês.
De acordo com o CFCM, apenas 600 dos 35 mil cemitérios franceses estão preparados para receber mortos muçulmanos. Na semana passada, um tribunal administrativo de Montreuil rejeitou o pedido da associação Tahara, argumentando que o caráter de urgência evocado não era justificado. A entidade recorreu ao Conselho de Estado francês.
Já a Associação dos Prefeitos da França lembra que “não existe obrigação” de as cidades disporem de áreas confessionais em seus cemitérios. Uma circular de 2008 apenas estimula as prefeituras a viabilizar esses espaços.