Sábado, 31 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 29 de maio de 2025
Há quase 50 anos, a Apple foi fundada por dois Steves. Jobs era o homem de negócios; e Wozniak, o inventor. Foi Woz – como é mais conhecido – que patenteou o “microcomputador para uso com exibição de vídeo”, o que foi crucial para a empresa entrar no nascente mercado de computadores ainda nos anos 1970. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Woz fala sobre inteligência artificial (IA), regulação de big techs e seu legado na Apple. O empresário veio ao Brasil a convite da Único, unicórnio do setor de tecnologia biométrica, para participar do evento Único Launch, em São Paulo.
Wozniak não se diz satisfeito com os recursos de IA da Apple no iPhone e diz gostar de pensar por conta própria. “Uma pessoa criativa não quer que alguém diga: ‘Eu sei o que você vai dizer e o que você vai fazer’. Pessoas mais criativas, atores, artistas, músicos, não querem ser previsíveis.” Leia abaixo alguns trechos da entrevista.
– Na sua visão, o quanto é importante e como podemos regular a IA em benefício da sociedade? “Todo mundo quer saber como podemos regular a inteligência artificial, porque ela pode sair do controle e causar problemas. Ela pode ser abusada por pessoas, e as pessoas ruins teriam uma nova ferramenta digital para tirar vantagem de você. Ouvimos muito sobre isso com deep fakes e coisas assim, então, isso é um problema. Confiamos na IA, e ela comete erros. Esse é o nosso reconhecimento do que a IA é: um computador tentando juntar informações, a partir de várias fontes de toda a internet no mundo. Não somos todos iguais, e a IA dá apenas uma resposta, como se essa única resposta fosse certa para todo mundo. A IA deveria evoluir. Se você está recebendo algo de alguém ou enviando algo a alguém, devemos saber que veio da IA. Em segundo lugar, é preciso saber de qual IA e em que essa IA foi treinada, nos recursos de qual empresa. Foi com informações da Amazon ou uma livraria? Saber isso pode me ajudar a decidir o quanto confio nela. Em terceiro lugar, ela deveria ter atribuições. Todo artigo científico publicado em periódicos científicos tem isso, e é a forma como avançamos nosso conhecimento. Você lê um artigo em uma revista revisada por pares, e ele tem pequenos números clicáveis, ou no passado você poderia lê-los e descobrir de qual pesquisa ou qual artigo veio aquela afirmação. A IA deveria ter isso. Você deveria poder clicar em qualquer frase e ver de onde ela veio, de qual artigo e em qual lugar.”
– A maior parte dos algoritmos de IA é como uma caixa-preta. Ninguém sabe realmente como funcionam. Uma abordagem de código aberto seria melhor? “Não tenho certeza de quanto da IA é de código aberto e quanto não é. As metodologias são ensinadas nas universidades, são aplicadas de empresa para empresa. Isso remonta a quando tínhamos redes neurais e aprendizado de máquina, e agora simplesmente levamos isso a um patamar muito mais alto e descobrimos que é possível usar as palavras que as pessoas usaram no passado para responder a uma determinada pergunta. É mais do que uma caixa-preta. As pessoas que a criam não sabem exatamente quando ela vai trazer coisas que não são verdadeiras? Quais são as verdadeiras motivações? Como regular isso? E esse é um problema maior. Porque, se eles mesmos não entendem o que acontece, não importa se é de código aberto. No código aberto, teremos os mesmos defeitos.”
– O sr. está feliz com os recursos de IA da Apple? “Provavelmente, não. Eu não uso. Eu tento usar o mínimo de IA possível porque quero as coisas funcionando da maneira que espero que funcionem. O que a Apple faz é minimamente suficiente para apenas parecer me ajudar quando funciona. Uma pessoa criativa não quer que alguém diga: ‘Eu sei o que você vai dizer e o que você vai fazer’. Pessoas mais criativas, atores, artistas, músicos, não querem ser previsíveis. O cérebro é delas.”
– A Apple Intelligence não foi tão bem recebida como se poderia esperar? “Com a Apple, você ainda pode usar o ChatGPT, se quiser. De vez em quando, eu vou usar, de vez em quando eu quase preciso dele para obter uma resposta melhor do que a minha.”
– Mas o sr. acredita que a Apple ainda pode inovar na área de IA? “Claro. A Apple pode competir em qualquer área. Se você integrar alguma inteligência da Apple que me estude e saiba o que eu estive fazendo o tempo todo e tentar chegar com respostas melhores que sejam para mim, eu sou a favor disso, desde que não seja compartilhado com o mundo. Eu não quero que o mundo pense que me conhece tão profundamente.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.