Quarta-feira, 19 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 31 de maio de 2019
O dólar comercial recuou 1,32% nesta sexta-feira (31), a R$ 3,925, menor valor em um mês, com os investidores otimistas com a aparente melhora na articulação em torno da reforma da Previdência. Também contribuiu para o fortalecimento do real, segundo analistas, o fluxo de investidores que buscam alternativas ao México após o anúncio de tarifas dos EUA sobre o país vizinho. Com isso, a Bolsa recuou menos que os pregões americanos, que tiveram a pior semana no ano. O Ibovespa perdeu 0,44%, aos 97.030 pontos. Apesar da queda desta sexta, o índice encerrou o mês com alta acumulada de 0,7%, seu primeiro maio positivo dos últimos dez anos. Já o câmbio encerrou o mês praticamente estável, avançando 0,1% no período.
Maldição de maio
O mês é considerado maldito por investidores. Uma das máximas de Wall Street é “Sell in May and Go Away”? (venda em maio e vá embora), baseada na percepção dos investidores de que o período iniciado no mês e termina em outubro costuma ser desfavorável para a Bolsa. No caso do Ibovespa, maio foi um mês de perdas em todos os anos desde 2009, às vezes com recuos de dois dígitos, como no tombo de 10,9%, no ano passado, e de 11,8%, em 2012.
E, este ano, maio foi especialmente turbulento, com manifestações contrárias ao governo, sequências de dados negativos sobre o ritmo da economia e derrotas do Executivo no Congresso, além de notícias de recrudescimento da guerra comercial entre EUA e China. A Bolsa chegou a cair abaixo dos 90 mil pontos, patamar que havia sido superado no fim do ano passado. A última semana do mês, porém, foi de recuperação, com o noticiário político indicando uma trégua entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso, o que tende a facilitar a aprovação da reforma da Previdência – tida pelos investidores como medida crucial para reduzir o peso da dívida pública na economia.
No início da semana, Bolsonaro se reuniu com os presidentes dos outros dois poderes para afinar o discursos a favor da aprovação da proposta. Desta maneira, os investidores ficam mais confiantes:
“Os investidores voltaram a precificar o mercado tendo como pano de fundo a aprovação da Previdência. Recentemente, assistimos a uma harmonia entre os poderes, e em tentativas de acelerar a tramitação no Congresso”, avaliou Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial.
“Sobra mais para o Brasil”
Outro motivo que contribui para esta queda, na leitura de Figueredo, é que o Brasil está bem atrasado em relação ao crescimento econômico. Sendo assim, caso a agenda de reformas passe logo, o país tem capacidade de avançar o que não conseguiu até agora.
“Nos últimos anos, enquanto os investimentos e o crescimento brasileiro ficaram retraídos, o mundo avançava. Agora o cenário é o inverso: o mundo com risco de desaceleração e o Brasil em processo de ajuste fiscal e retomada do crescimento”, diz. “Se o dever de casa for feito, o Brasil tem chances de avançar. Assim, dólar cai e Bolsa sobe.”
Segundo analistas, a imposição de tarifas sobre o México, embora tenha efeitos negativos sobre a perspectiva de crescimento global, também acaba levando a aumento de fluxos financeiro para o Brasil. Segundo Paulo Nepomuceno, estrategista da corretora Coinvalores, enquanto o peso mexicano desvaloriza-se em 2,43% após o movimento de Trump, o real é a moeda que mais ganha valor entre as principais dividas do mundo.
“A notícia sobre o México é ruim, mas pensando em termos de alocação de investimento em países emergentes, acaba sobrando mais espaço para o Brasil. Com os investidores reduzindo suas posições no México, esses recursos acabam sendo deslocados para outros emergentes, mas o Brasil é um dos poucos que não enfrenta problemas de financiamento da divida no curto prazo nem tem grande parte de sua dívida em moeda estrangeira”, explicou Nepomuceno.