Sábado, 02 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 21 de julho de 2015
Seu cocô mostra quem você é, descobriu um grupo de pesquisadores de Harvard. Os cientistas apostam que isso pode ter uma importante aplicação forense, na identificação de indivíduos, somando-se a outras técnicas agora emergentes.
A pesquisa americana mostrou que um estudo da microbiota intestinal presente nas fezes permite identificar o indivíduo em 83% dos casos. O estudo saiu na revista científica Pnas. Não é perfeito, claro – para identificar sem chance alguma de erro uma pessoa específica no mundo, é preciso ter nada menos do que 99,99999999% de precisão. A questão é que, como nenhuma técnica atinge tal nível de sofisticação, a medicina forense caminha mais e mais para a sobreposição de metodologias.
Se, em vez da microbiota, a análise for de DNA, atualmente qualquer gota de suor, perdigoto de saliva e até mesmo esbarrão em algum objeto podem deixar para trás material suficiente para identificar alguém. Até pouco tempo, a análise das impressões digitais deixadas era o suprassumo da identificação. Quando as impressões são intencionais, como nas cédulas de RG, é fácil matar a charada. Entretanto, quando deixadas de forma não intencional, as imagens formadas são parciais e fracas, dificultando uma identificação perfeita. Outra técnica tradicional é o exame da arcada dentária, mas ele não se aplica a todos os crimes.
Perfil revelado.
As bactérias presentes no intestino podem indicar ainda o tipo de dieta (rica em fibras, vegana ou deficiente em vitaminas, por exemplo), estado geral de saúde, a idade e até mesmo em que lugar do planeta a pessoa reside, conforme os tipos e bactérias característicos de cada pessoa.
A análise do microbioma humano (bactérias e outros micro-organismos presentes no nosso corpo) já permeia diversas áreas da medicina. Doenças como diabetes, hipertensão e obesidade podem ser parcialmente explicadas pelas bactérias que carregamos em nossos intestinos. Segundo o perito da Polícia Federal, Jorge Freitas, a ciência de identificação evoluiu muito nos últimos 20 anos, mas ainda levará algum tempo para que ela incorpore a análise do microbioma. Para ele, a técnica provavelmente servirá inicialmente como critério de eliminação – ou seja, para apontar quem não é o criminoso, em vez de quem é –, como acontecia nos primórdios da identificação pelo sistema ABO de tipo sanguíneo.
Outras técnicas que têm avançado e já auxiliam a resolver crimes se relacionam com a computação. Com tantas câmeras espalhadas pela cidade, por exemplo, reconstruir em código digital um retrato de um suspeito não é difícil – e esse recurso já tem sido bastante utilizado para se identificar (ou excluir) suspeitos. Funciona assim: o rosto na imagem é subdividido em pequenos pedaços que ganham uma codificação binária (0 ou 1). Esse código permite a comparação computacional com bancos de imagens de criminosos – se a chance de ser a mesma pessoa na foto for alta, o sistema avisa. Até o ritmo em que uma pessoa digita em um computador pode ser usado para identificá-la. Em um mundo hiperconectado, não faltam recursos para que as pessoas se sintam tão seguras quanto vigiadas. (Folhapress)