Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 3 de novembro de 2020
Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Medicina de Groningen, na Holanda, lançou novas luzes sobre o conturbado prontuário psicológico do pintor expressionista Vincent Van Gogh. No estudo, liderado pelo professor emérito de psiquiatria Willem Nolen, “algumas teorias são confirmadas, outras são desmascaradas”, entre elas, a de que o artista sofreria de esquizofrenia. Com base em sua extensa correspondência e em informações médicas existentes, o estudo realizou uma investigação psiquiátrica sobre as possíveis doenças mentais de Van Gogh, e concluiu que ele teve dois surtos psicóticos, motivados por abstinência alcoólica, após o famoso episódio da orelha cortada, em 1888.
Van Gogh morreu em 29 de julho de 1890, aos 37 anos, em decorrência de uma tentativa de suicídio. O pintor sofria de uma combinação de vários transtornos psiquiátricos e comorbidades, causados por uma rotina de abuso de álcool, desnutrição, sono pobre e exaustão mental. Nas cartas analisadas pelos pesquisadores, ele relata, ao longo de toda a vida adulta, vários sintomas associados a um transtorno de humor, possivelmente bipolar, combinado a um transtorno de personalidade provavelmente limítrofe. Em 23 de dezembro de 1888, ele cortou a própria orelha esquerda.
De acordo com o estudo, após este episódio Van Gogh enfrentou dois surtos psicóticos de curta duração, provavelmente porque parou de consumir álcool enquanto estava hospitalizado. Isso teria potencializado episódios depressivos graves, ao menos um deles com características psicóticas.
A pesquisa, publicada no International Journal of Bipolar Disorders nesta segunda-feira (02/11), não tem a pretensão de determinar com certeza as causas dos transtornos de Vincent Van Gogh.
“Achamos que podemos descartar alguns dos diagnósticos sugeridos anteriormente com certeza e temos mais ou menos certeza sobre várias doenças de que ele sofria, mas nunca saberemos com certeza”, diz o médico Willem Nolen. “Não conseguimos entrevistar o paciente nós mesmos, o que significa que toda conclusão deve ser feita com cautela. E embora as cartas de Van Gogh contenham muitas informações, não se deve esquecer que ele não as escreveu para seus médicos, mas para seu irmão Theo e outros familiares e conhecidos para informá-los, para tranquilizá-los, ou por algum motivo. Portanto, pode ser que ele estivesse enfraquecendo ou acrescentando peso a certos fatos. A última palavra sobre o quadro clínico de Van Gogh, portanto, não é dita em nosso artigo.”
Vicent Van Gogh pintou mais de 900 telas, além de cerca de 1.600 desenhos e esboços. Enquanto viveu, porém, vendeu apenas um quadro, “A vinha encarnada”. Hoje, apenas o “Autorretrato com a orelha cortada” é avaliado em mais de US$ 100 milhões.