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Brasil Acordo de livre comércio do Brasil com Estados Unidos é mais complicado do que parece

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Trump e Bolsonaro se cumprimentam durante encontro em junho. (Foto: Reprodução)

“Nós vamos trabalhar em um acordo de livre comércio com o Brasil. O Brasil é um grande parceiro comercial. Eles nos cobram muitas tarifas, mas, tirando isso, nós amamos essa relação.”

A fala elogiosa do presidente Donald Trump, que respondia na última terça-feira (30) ao questionamento de repórteres no jardim da Casa Branca, abriu uma semana de declarações positivas e entusiasmadas de autoridades sobre a perspectiva de que, num futuro próximo, os dois países levem a antiga parceria comercial para um novo estágio: em que barreiras tarifárias não mais atrapalharão a compra e venda de seus produtos.

Paulo Guedes, ministro da Economia, também se mostrou animado após receber a visita do secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, no dia seguinte à fala de Trump. Guedes foi taxativo: o encontro com Ross na quarta-feira (31) marcou, oficialmente, o início das negociações rumo ao acordo comercial entre Brasil e Estados Unidos.

“O Brasil entrou em campo”, declarou o ministro.

Antes da reunião, o secretário também havia participado de uma audiência no Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro. Ross, em visita pela América Latina que também incluiu o Chile, deixou o Brasil após os encontros com uma ponderação: para que o acordo comercial avance, é necessário que o tratado do Mercosul com a União Europeia, anunciado e comemorado pelo presidente Bolsonaro no final de junho, não crie obstáculos.

Para especialistas e representantes da indústria brasileira ouvidos pela BBC News Brasil, apesar da nítida mudança de tom do governo Trump e aumento do interesse americano em se aproximar do Brasil, é altamente improvável que o consenso para um acordo seja alcançado ainda nesta gestão de Bolsonaro.

Isso porque o caminho para o livre comércio entre os dois países é, sobretudo, longo e cheio de obstáculos que envolvem variáveis como a aprovação de reformas no Brasil, a eleição presidencial nos Estados Unidos no ano que vem e o futuro político da Argentina, que terá eleições em outubro deste ano.

Por que agora?

Os EUA são um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, embora venham perdendo espaço nos últimos anos.

Entre 2005 e 2016, a participação dos EUA no comércio exterior brasileiro caiu de 19% para 12,5% das exportações, e se manteve um pouco acima de 17% nas importações. De janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou um total de US$ 14 bilhões para o país, com destaques como petróleo (US$ 1,29 bilhão), aviões (US$ 862 milhões), gasolina (US$ 498,6 milhões) e café (US$ 434 milhões).

Além da parceria, os dois países também são ferrenhos concorrentes no comércio exterior – são os maiores produtores e exportadores de commodities do mundo, especialmente em itens como alimentos e petróleo.

Se a parceria é tão antiga, porque outros presidentes dos Estados Unidos não propuseram um acordo de livre comércio com o Brasil antes?

“Hoje estamos sendo uma noiva cobiçada”, explica José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil e ex-diretor da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior.

A razão principal, na lógica das analogias aos relacionamentos amorosos, seria uma espécie de “ciúme”: o Brasil acaba de, por meio do Mercosul, fechar um longamente negociado acordo com a União Europeia, que é o principal destino das exportações de serviços dos Estados Unidos.

Em 2015, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria, a União Europeia comprou 31% das exportações de serviços dos EUA. Além disso, os Estados Unidos têm divergências com a comunidade europeia sobre comércio nos setores farmacêutico, químico, de alimentos e automóveis, entre outros.

“Com o acordo do Mercosul, as commodities que o Brasil vai vender para a União Europeia serão sem tarifas. Por outro lado, o que os EUA comprarem da União Europeia vai ser tarifado. Os EUA vão ter que conceder mais subsídios para tornar o produto deles competitivo”, diz Castro, que ressalta que, por outro lado, como o Brasil é um comprador modesto dos produtos dos EUA e está com grande parte da indústria ociosa por causa da economia parada, tem forte potencial para crescimento.

Para os EUA, o Brasil é um parceiro comercial de peso relativamente pequeno, respondendo por pouco menos de 1% de suas exportações e importações totais.

“No ano 2000, 25% de tudo o que o Brasil exportava tinha como destino os Estados Unidos. Hoje são 12%. E naquela época exportávamos bem mais manufaturados, as commodities ainda não tinham surgido como estão hoje. Existe um espaço muito grande para crescer.”

O diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo, concorda que foi o acordo com a União Europeia que motivou a súbita aproximação dos EUA. Barbosa participou, inclusive, de uma das reuniões de Ross no Brasil, quando o secretário esteve na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo na segunda-feira (29) para discutir o comércio bilateral entre Brasil e EUA.

 

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