Terça-feira, 18 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de julho de 2018
Parentes e amigos do líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), foram indicados para a Dataprev, uma estatal voltada para o fornecimento de soluções de tecnologia ao governo federal e para o processamento dos pagamentos das aposentadorias dos brasileiros.
A estatal virou um cabide de empregos ocupados por meio de indicações políticas do parlamentar. Cargos de confiança em Sergipe, onde a empresa mantém apenas um pequeno escritório, sem uma unidade de desenvolvimento de sistemas ou um data center, foram preenchidos por apadrinhados de Moura, pré-candidato ao Senado pelo Estado.
Segundo o jornal O Globo, é possível identificar indicações políticas em pelo menos 16 dos cerca de 60 cargos de confiança existentes na Dataprev. Oito foram preenchidos por indicação direta de Moura.
Dois desses comissionados são assessores diretos do presidente da Dataprev, André Leandro Magalhães, recebem salário de R$ 18,9 mil, moram em Aracaju e pouco aparecem em Brasília, onde o presidente dá expediente. Eles seguem em Sergipe mesmo depois de o presidente da Dataprev ter assinado, em janeiro deste ano, a transferência dos dois de Aracaju para Brasília. A mudança na lotação dos cargos ocorreu após a má repercussão interna gerada pelo fato de que o presidente — também ele uma indicação política do líder do governo — mantinha dois assessores lotados no Estado de André Moura.
Boa parte dos currículos desses servidores não justificaria uma contratação do ponto de vista técnico. No grupo de indicados políticos estão advogados que atuaram em processos a que respondem o líder do governo ou seus aliados em Sergipe, um primo do deputado e uma ex-proprietária de salão de beleza. Pelo menos seis sergipanos estão nessa lista.
O líder do governo controla também o comando do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), principal cliente da Dataprev. Após a divulgação de que o então presidente do INSS, Francisco Lopes, contratou uma empresa de informática que funcionava numa loja de bebidas, ele acabou demitido pelo governo. Moura, porém, segue dando as cartas nas indicações políticas no INSS.
Bons cargos para defensores
A influência de Moura na Dataprev começa pelo topo da empresa. Partiu do líder do governo Temer no Congresso a indicação do presidente da empresa, André Magalhães, e do diretor de Relacionamento, Desenvolvimento e Informações, Antônio Ricardo de Oliveira Junqueira. Depois, o deputado passou a influir no loteamento de cargos menores, especialmente em Sergipe.
Em 6 de novembro de 2017, o advogado Rafael Resende de Andrade ganhou o cargo de assessor do presidente da Dataprev, com salário de R$ 18,9 mil. A assessoria era feita remotamente: Rafael foi lotado no escritório em Aracaju.
Antes de chegar à estatal sob influência do líder do governo, o advogado atuou em pelo menos cinco processos de Moura na Justiça. Ele defendeu o deputado numa ação penal e num inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) — os processos investigam o parlamentar por formação de quadrilha e crime eleitoral, respectivamente. Rafael também foi advogado de Moura numa reclamação no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e numa ação para restituição de material apreendido numa vara criminal em Aracaju.
A carga horária de trabalho na Dataprev, como consta das planilhas de servidores tornadas públicas pela estatal, é de oito horas por dia. O advogado Rodrigo Castelli chegou à empresa antes de Rafael, em junho do ano passado. Assessor jurídico do presidente, com salário de R$ 18,9 mil, ele também não foi lotado na sede em Brasília, mas em Aracaju. Rodrigo é advogado em dezenas de processos a que respondem aliados de Moura em Sergipe, especialmente prefeituras do interior do Estado e políticos com pendências na Justiça Eleitoral.
Uma terceira advogada, Luanna Santos Cariri, virou assessora do presidente, com o mesmo salário, mas lotada em São Paulo. Luanna também é de Sergipe. Chegou à Dataprev em julho de 2017.
Em 2014, ela foi estagiária voluntária numa vara criminal em Aracaju. E, entre outubro de 2016 e abril de 2017, atuou como advogada júnior num escritório que tem André Moura como um de seus principais clientes.
Filiado ao DEM desde 2003, Cláudio Dantas Rangel tem atuação profissional quase 100% atrelada a indicações políticas, graças ao primo político André Moura. Ele foi secretário de Obras da prefeitura de Pirambu (SE), nas gestões de Moura como prefeito, assessor de uma secretaria de governo e assessor de deputado.
Cláudio não concluiu o curso de Medicina Veterinária e tem nível superior incompleto. Na Dataprev em Sergipe, é assessor técnico administrativo da Diretoria de Relacionamento desde dezembro de 2016. O salário é de R$ 7,4 mil.