Segunda-feira, 29 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2020
O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) revelou uma série de negócios milionários feitos pela Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) que, segundo o órgão, teriam sido realizados por meio de “laranjas” com o intuito de adquirir imóveis para parentes e amigos do padre Robson. As transações citadas beiram os R$ 10 milhões. Porém, a Justiça interrompeu a investigação por entender que não houve crime. O religioso sempre negou as acusações.
A defesa de padre Robson disse em nota que o material apreendido pelo MP “não atende aos requisitos legais e constitucionais e determinou a inutilização. Portanto, juridicamente, a prova é inexistente, porque é ilícita”.
Já a Afipe havia informado que a atual gestão não tem qualquer informação sobre a situação, uma vez que “questões que envolvem a gestão anterior estão sendo apuradas pelo Ministério Público”.
Os dados foram repassados pelo promotor de Justiça Sandro Haldfeld, que integra a equipe que atuou na Operação Vendilhões, deflagrada para investigar desvios de doações de fiéis à Afipe, entidade fundada pelo sacerdote e responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade. A Justiça, no entanto, bloqueou essa apuração, acolhendo parecer da defesa do padre, sob o argumento de que os fatos apurados são “atípicos”, ou seja, não são considerados crimes.
Ao falar sobre a decisão do MP de recorrer da decisão, Haldfeld concordou que “a compra de fazendas” pela Afipe, de fato, não configura crimes. Mas listou ao menos três negociações realizadas pelo órgão que considera irregulares, uma vez que beneficiaram, pessoalmente, pessoas ligadas ao pároco:
– Saque de R$ 400 mil da Afipe em 26 de novembro de 2016 repassado a uma “laranja” para a compra de um imóvel para a irmã do padre;
– Repasse de R$ 7,5 milhões em 23 de outubro de 2016 para uma construtora que, no mesmo dia, transferiu o valor a “laranjas” para a compra de imóveis onde morariam os pais e uma irmã do padre;
– Transferência de R$ 2 milhões para uma rede de rádio, que transferiu R$ 350 mil para um irmão do padre e R$ 800 mil para uma amiga do religioso construir um boliche em Brasília.
Trancamento
A investigação foi interrompida na última terça-feira (6), por determinação do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). Desembargadores da 1ª Câmara Criminal entenderam que não houve o crime que é alvo da apuração, neste caso, organização criminosa, lavagem de capitais e apropriação indébita.
Após afirmar que vai recorrer da decisão, o MP divulgou documentos que, segundo os promotores de Justiça, reforçam que os próprios integrantes da Afipe apontaram irregularidades na associação.
O MP tem ainda, como parte do conjunto de provas, um relatório feito por um ex-diretor da Afipe, no qual ele alega ter tentado relatar algumas irregularidades, mas que obteve a seguinte resposta: “Eu sei que está errado, mas o padre [Robson] manda fazer”.