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Por Redação O Sul | 9 de maio de 2019
O papa Francisco introduziu, nesta quinta-feira (9), um decreto que obriga os bispos a denunciarem todas as suspeitas de casos de abuso sexual dentro da Igreja Católica. A decisão também incentiva fiéis a se queixarem diretamente ao Vaticano para responsabilizar eventuais tentativas de violação ou acobertamento por parte do clero.
O decreto papal “Vos estis lux mundi” (Vós sois a luz do mundo), que trata do abuso de crianças e adultos, também obriga todas as dioceses católicas do planeta a criar sistemas de notificação simples e acessíveis, além de incentivar as igrejas locais a envolver especialistas leigos (não religiosos) no processo de investigação dos casos.
Em um momento em que a Igreja Católica enfrenta diversas denúncias de abuso sexual em vários países, inclusive no Brasil, o Papa diz no decreto que “para que estes fenômenos, em todas as suas formas, não aconteçam mais, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por ações concretas e eficazes que envolvam a todos na Igreja”.
O documento estabelece que não somente os abusos e as violências contra menores e adultos vulneráveis sejam combatidas, mas também comportamentos gerados pelo excesso de autoridade dos sacerdotes. Além disso, o texto determina que, a partir de agora, bispos com conflitos de interesse devem se manter ausentes das investigações.
Denúncias em São Paulo
Em fevereiro, o Vaticano designou um bispo – Dom João Inácio Muller – para investigar escândalos de corrupção na Diocese de Limeira, no interior paulista. O protagonista do escândalo é o bispo Dom Vilson Dias de Oliveira, da Diocese de Limeira, acusado de extorsão e coação de padres de diversas paróquias da região.
Dom Vilson Dias de Oliveira também é acusado de acobertar denúncias de pedofilia contra o padre Pedro Leandro Ricardo, afastado da função eclesiástica de reitor da basílica de Americana em janeiro. Bispo e padre negam as acusações.
Escândalos sexuais
A Igreja Católica, que tem 1,3 bilhão de seguidores em todo o mundo, passou por sucessivos escândalos envolvendo abusos nos últimos anos. O papa Francisco enfrenta divisões agudas em Roma sobre como lidar com as consequências do problema que corrói a autoridade da Igreja e abala sua credibilidade.
Casos de pedofilia vieram à tona em diversos países, como Austrália, Estados Unidos e Chile, onde 34 bispos acusados de acobertar crimes sexuais colocaram seus cargos à disposição do Vaticano. No início deste ano, o papa Francisco admitiu que padres e bispos abusaram de freiras. Vários religiosos foram afastados de seus cargos.
Desde o início dos anos 2000, o Vaticano vem tomando medidas para evitar esses casos. Ainda no papado de João Paulo II, foi declarada tolerância zero aos casos de pedofilia, e as denúncias foram estimuladas. O papa Bento XVI passou a selecionar com mais rigor a entrada dos jovens padres à igreja e afastou muitos religiosos.
Já o papa Francisco foi o primeiro pontífice a ver a questão como abuso de poder, embora tenha se envolvido em uma polêmica ao defender um bispo chileno – posteriormente, ele reconheceu que cometeu “graves erros de avaliação” sobre o caso.
Em março, o papa publicou a lei sobre a prevenção e o combate à violência sexual contra pessoas vulneráveis, que se aplicam aos funcionários da Cúria e do Vaticano e ao corpo diplomático.