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Geral O polêmico vilarejo que proíbe a entrada de muçulmanos para se manter ‘branco e cristão’

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"Ásotthalom defende suas tradições": placas mostram que muçulmanos e gays não são bem-vindos na cidade húngara. (Foto: BBC)

Ásotthalom, um vilarejo de pouco mais de 4 mil habitantes no Sul da Hungria, proibiu o uso de trajes muçulmanos, os chamados para preces e a construção de mesquita.

Segundo seu prefeito, a cidade se vê como ponta de lança de uma “guerra contra a cultura muçulmana” e espera atrair cristãos europeus que se opõem à diversidade cultural em seus países.

“Nós recebemos basicamente pessoas da Europa Ocidental – gente que não gosta de viver em uma sociedade multicultural”, disse o prefeito, Laszlo Toroczkai, em entrevista ao programa Victoria Derbyshire, da BBC. “Nós não gostaríamos de atrair muçulmanos”.

Ásotthalom fica nas remotas planícies do Sul do país, a duas horas da capital, Budapeste.

“É muito importante para a cidade preservar suas tradições. Se um grande número de muçulmanos chegar aqui, eles não vão conseguir se integrar na comunidade cristã”, continua.

“Podemos ver grandes comunidades muçulmanas na Europa Ocidental que não foram capazes de se integrar – e nós não queremos essa mesma experiência aqui”, acrescenta o prefeito.

“Eu gostaria que a Europa fosse dos europeus, a Ásia dos asiáticos e a África dos africanos. Simples assim.”

Rejeição aos imigrantes

A crise de refugiados de conflitos no Oriente Médio tem contribuído para o aumento da rejeição aos imigrantes por parte dos habitantes da Europa – e na Hungria não é diferente.

Em 2015, no auge da crise migratória europeia, 10 mil pessoas cruzavam diariamente a fronteira da Sérvia para a Hungria, que fica a poucos minutos de Ásotthalom.

O prefeito se aproveitou to clima de tensão com o aumento do fluxo de imigrantes na região e decretou leis polêmicas – e legalmente questionáveis.

Assim, a nova legislação local proíbe o uso de trajes muçulmanos como o hijab (o véu que cobre a cabeça das mulheres), o chamado público para preces e veta ainda demonstrações públicas de afeto entre gays.

Também está sendo introduzida uma lei para proibir a construção de mesquitas no vilarejo, embora apenas duas pessoas muçulmanas vivam lá atualmente.

Para muitos juristas, as medidas desrespeitam a Constituição da Hungria e, até o fim deste mês, o governo central vai rever a legislação de Ásotthalom.

O país tem sido repetidamente acusado de desrespeitar valores europeus e já sofreu sanções da União Europeia que causaram um prejuízo de 6 bilhões de euros (cerca de R$ 20 bilhões); a Hungria também foi ameaçada de expulsão do bloco econômico.

Em 2015, o governo nacionalista do primeiro-ministro, Viktor Orbán, no poder desde 2010, chegou a fechar com arame farpado os 175 quilômetros de fronteira com a Sérvia e a Croácia para impedir a passagem dos imigrantes.

Também deslocou 10 mil soldados e policiais para patrulhar a região.

O prefeito, Laszlo Toroczkai, de 38 anos, fundou e liderou um movimento de jovens de extrema-direita, do qual se afastou ao vencer as eleições em 2013.

Em 2004, ele foi expulso por um ano da Sérvia por envolvimento em uma briga na cidade de Palic. Dois anos depois, foi expulso da Eslováquia por organizar manifestações contra o governo e ficou cinco anos proibido de entrar no país.

Apoio dos moradores

As leis criadas por ele, no entanto, têm o apoio de vários moradores como Eniko Undreiner, que disse ter sido “muito assustador” ver “multidões de migrantes passando pela cidade”.

“Passei muito tempo em casa com meus filhos pequenos. Houve momentos em que tive medo”, conta ela.

Os dois únicos muçulmanos que vivem no vilarejo não quiseram falar com a BBC porque não querem chamar a atenção da comunidade. Mas um morador disse que eles estão “completamente integrados”.

“Eles não provocam ninguém. Não usam niqab (o véu que cobre o rosto das mulheres e só deixa os olhos de fora). Eles não incomodam a gente… Eu os conheço. Nos damos bem”, continuou.

O prefeito pretende colocar o vilarejo na linha de frente do que ele chama de “guerra contra a cultura muçulmana”.

Ele criou milícias para patrulhar as fronteiras, medida que, acredita, atrairá moradores brancos europeus.

Milícias na fronteira

A organização Knights Templar International (Cavaleiros Templários Internacional, em inglês), ligada à extrema-direita britânica, tem anunciado casas em Ásotthalom na sua página no Facebook.

Entre os integrantes dessa organização está Nick Griffin, ex-líder do British National Party (o Partido Nacional Britânico, de extrema-direita) e o ex-tesoureiro do partido Jim Dowson, um militante de extrema-direita que fundou o grupo Britain First.

Dowson também incentivou a criação de milícias para patrulharem a fronteira da Bulgária com a Turquia e impedirem a entrada de refugiados na Europa.

“Fui procurado por Jim Dowson”, diz Toroczkai. “Ele veio a Ásotthalom algumas vezes só para visitar. Nick Griffin também veio com ele.”

Griffin já descreveu a Hungria como “um local para fugir do inferno que está prestes a tomar conta da Europa Ocidental”.

“Quando tudo tiver dado muito errado no Ocidente, mais pessoas vão se mudar para a Hungria, e a Hungria precisa dessa gente”.

‘Branca, europeia, cristã’

Situada no coração da Europa, a Hungria faz fronteira com sete países: Eslováquia, Ucrânia, Romênia, Sérvia, Croácia, Eslovênia e Áustria.

A BBC solicitou entrevistas à Knights Templar International e a Griffin, mas ambos não responderam aos pedidos.

Toroczkai disse que ficaria feliz em receber cidadãos da Inglaterra.

Quando perguntado se está querendo criar uma cidade supremacista branca, Toroczkai respondee: “Não usei a palavra ‘branca’. Mas, por sermos uma população branca, europeia e cristãos, queremos continuar assim”.

“Se fossemos negros, iríamos querer continuar sendo um vilarejo negro.”

“Mas a realidade é esta e queremos preservá-la”, conclui.

(BBC)

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