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Por Redação O Sul | 9 de junho de 2018
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está decidido a fazer história na reunião que terá nesta terça-feira, na Cingapura, com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Mas não há tantas diferenças entre a sua forma de enfocar a negociação e a dos seus antecessores na Casa Branca, cujas tentativas de diálogo com o país asiático fracassaram.
O mero fato de se encontrar com o presidente norte-coreano já garante ao polêmico líder republicano um papel histórico nas relações com o segmento mais fechado da Àsia. Ele confia que a sua peculiar idiossincrasia e a relação pessoal que puder estabelecer com Kim permitam solucionar uma questão essencial que frustrou os Estados Unidos por quase três décadas: o programa nuclear de Pyongyang.
“Isso deveria ter sido resolvido há muitos anos, não só pelo presidente Barack Obama, mas pelos outros que me precederam”, ressaltou Trump em uma recente declaração à imprensa. Apesar dessas críticas a seus antecessores, Trump abriu a porta no final de maio para um processo cujo objetivo é o fim do programa nuclear da Coreia do Norte, “por etapas”. Esse conceito chegou a ser tentado pelo então presidente Bill Clinton em meados da década de 1990.
“Há algumas semelhanças notáveis com os enfoques de outros presidentes”, disse à Agência Efe o professor e historiador Patrick Maney, autor de um livro sobre o governo Clinton. “Parece que agora Trump está disposto a contemplar um processo de desnuclearização por fases. A questão é se isso funcionará agora, quando não foi feito no passado.”
Trump também abriu a porta à possibilidade de ajudar economicamente a Coreia do Norte se esta empreender o caminho da desnuclearização, algo que traz ecos do acordo assinado em 1994, pelo qual o governo Clinton se comprometeu a fornecer energia ao país asiático em troca da suspensão de seu programa nuclear, o que fracassou em 2002.
Além disso, o enfoque inicial de Trump foi “muito similar” ao de Obama, baseado na “pressão” econômica e na exigência de passos concretos de desnuclearização antes de oferecer alguma concessão, segundo Mintaro Oba, que trabalhou até 2016 no programa sobre a península coreana do Departamento de Estado.
“Esse enfoque era inflexível, e a única coisa que conseguiu foi que a Coreia do Norte seguisse desenvolvendo seus programas nucleares e de mísseis”, opinou Oba. Segundo ele, os esforços diplomáticos da Coreia do Sul assentaram as bases para uma aproximação entre Trump e Kim depois de meses de duros ataques retóricos e “mudaram em parte” essa estratégia.
Trump suavizou pouco a pouco seu discurso e, no início deste mês, chegou a afirmar que não pretende mais utilizar a expressão “pressão máxima”, que havia sido empregada até a exaustão por seus assessores para descrever o regime de sanções internacionais contra Pyongyang, porque agora está “se dando bem” com a Coreia do Norte.
Questionamentos
Esse otimismo lhe rendeu algumas críticas e advertências como a do líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, que lhe pediu na semana passada que tivesse cuidado com os “enganos” dos norte-coreanos.
Mas a Casa Branca deixou convenientemente no ar alguns pontos-chave de sua estratégia e não esclareceu exatamente o que Trump exigirá de Kim quando ambos se reunirem nesta terça-feira em um luxuoso hotel de Cingapura. Isso dá margem de manobra ao imprevisível Trump, que não descartou que possa cancelar a cúpula no último momento ou se levantar da mesa se as coisas não ocorrerem como espera.
Ao organizar uma cúpula presidencial no começo do processo negociador em vez de concebê-la como o final de um longo diálogo entre funcionários de menor categoria, Trump fez uma arriscada aposta para resolver o problema, mas que pode surpreender. “Tanto os Estados Unidos como a Coreia do Norte, com os olhos do mundo sobre eles, terão muito mais incentivos para conseguir um resultado positivo”, frisou Maney.