Segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de junho de 2022
A PF (Polícia Federal) ouviu, nesta segunda-feira (6), as duas últimas pessoas que teriam se encontrado com o indigenista Bruno Araújo Pereira, da Funai (Fundação Nacional do Índio), e com o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal britânico The Guardian, antes do desaparecimento deles, no domingo (5), durante uma viagem por terras indígenas na Amazônia. De acordo com o portal de notícias G1, a PF afirmou que eles não eram suspeitos, que falaram na condição de testemunhas e que, depois, foram liberados. Os dois homens foram identificados apenas por “Churrasco” e “Jâneo”, segundo informações do jornal O Globo.
O indigenista tinha uma reunião agendada com o comunitário apelidado de “Churrasco”, com o objetivo de consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território, bastante afetado pelas intensas invasões. O encontro seria na comunidade São Rafael, no Vale do Javari, e Bruno Pereira compareceu acompanhado do jornalista, mas Churrasco não teria aparecido. Bruno e Dom seguiram para Atalaia, então, e desde a saída do local não haviam sido mais vistos e mais nenhum contato foi feito.
Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. A informação foi confirmada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O MPF (Ministério Público Federal), a PF e o Exército foram acionados para realizar as buscas. Bruno Araújo era alvo constante de ameaças pelo trabalho que vinha fazendo juntos aos indígenas contra invasores na região, pescadores, garimpeiros e madeireiros. O Vale do Javari é a região com a maior concentração de povos isolados do mundo.
“Enfatizamos que, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, essa semana a equipe recebeu ameaças em campo, além de outras que já vinham sendo feitas à equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em Tabatinga”, afirmou Beto Marubo, membro da coordenação da Univaja, entidade composta por indígenas Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina-Pano, Korubo e Tsohom-Djapá.
Os dois desaparecidos viajavam com uma embarcação nova, com motor de 40 HP e 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem, e 7 tambores vazios de combustível.
De acordo com lideranças da Univaja, os dois se deslocaram com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima à localidade chamada Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da Funai no rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas.
“Às 16h, outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado. Vale ressaltar que o indigenista Bruno Pereira é uma pessoa experiente e que conhece bem a região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”, afirma o advogado da Univaja, Eliésio Marubo.
Os dois chegaram no local de destino (Lago do Jaburu) no dia 3 de junho de 2022, às 19h25min. No dia 5, os dois retornaram logo cedo para a cidade de Atalaia do Norte. No entanto, antes eles pararam na comunidade São Rafael, para que Bruno Pereira conversasse com “Churrasco”. Depois da parada eles não voltaram a serem vistos.
Bruno Pereira é considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai e é profundo conhecedor da região, onde foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por cinco anos. Foi também por quase três anos coordenador-geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai.
Dom Phillips é um jornalista freelancer britânico que se mudou para o Brasil em 2007, com passagens por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Além do The Guardian, Phillips já colaborou para o Financial Times, o The New York Times, o The Washington Post, a Bloomberg, a Daily Beast, revista de futebol Four Four Two, e para o jornal de energia Platts, entre outros. Phillips é atualmente bolsista da Alicia Patterson Foundation e 2021 Cissy Patterson Environmental Fellow.
Em nota, o jornal britânico manifestou preocupação com o desaparecimento do jornalista e afirma que já está em contato com a Embaixada no Brasil. “O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”, informou.
A Funai afirmou que acompanha o caso, está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas. “Cumpre esclarecer que, embora o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira integre o quadro de servidores da Funai, ele não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares”, diz a nota.
Localizada no Oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, a Terra Indígena Vale do Javari teve seu processo de demarcação finalizado no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, e possui uma extensão territorial equivalente a quase dois estados do Rio de Janeiro (85,4 mil km²). É considerada a segunda maior demarcação depois da Terra Yanomami (96, 6 mil km²), homologada em 1992, pelo ex-presidente Fernando Collor. As informações são do jornal O Globo.