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| O rabo do gato

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Congresso Nacional (Foto: Banco de Dados)

1. Era um grupo grande, de gente pequena. Estávamos na última década do século. E do milênio: a dos noventa, no calendário gregoriano. Vivia-se um tempo agitado. Os jornais e a própria mídia eletrônica – um tanto encabulada – descobriram que a imprensa não existia só para publicar notas oficiais: A maior parte do noticiário, se não era igual, lembrava bastante a chatice – que até hoje mantêm o mesmo padrão – da “Voz do Brasil”.

2. Nesse clima, criou-se a CPI, na Câmara dos Deputados. Seus integrantes foram batizados de “Anões do Orçamento”. Surgira, em função de múltiplas manchetes que denunciavam a ocorrência de uma grossa “farra” promovida por vários deputados (a maioria do PMDB) que, integrando a bancada majoritária na Casa, apossaram-se da poderosa e sedutora Comissão de Orçamento.

3. O grupo, a maioria de baixa estatura, originário de vários Estados (até gaúcho tinha) organizou em princípio silenciosamente, uma verdadeira máfia, passando a manipular sem atenção as regras legais do Orçamento.

4. Os integrantes da quadrilha passaram a fazer uso de argumentos monetários e de fácil entendimento logo assimilados pelos prefeitos. Boa parte dos burgomestres gostam da iniciativa: o parlamentar que os procurava parecia ser o próprio Rei Midas. Passaram os proponentes congressistas a, na prática, oferecer um cesto surtido de bens (ao gosto dos Prefeitos), liderado pelo atendimento a área de saúde – por ex.: cirurgias, construções de hospitais, medicamentos e até equipamento tecnológico moderno.

5. Não esqueciam, no entanto, em segundo lugar de valorizar a área de transporte: que sempre ensejou grande retorno eleitoral, principalmente quando se prometia a pavimentação de pequenas estradas ligando a sede do município à BR mais próxima. Tal perspectiva era recebida pelo prefeito com alegria, pela esperança, e com frieza – por ser uma história já repetida as vésperas de eleições. Verbas para educação não eram esquecida, especialmente para a construção de escolas e, volta e meia, para o erguimento de um ginásio municipal. O prefeito com outras prioridades logo ficava pensando (ah! Com que inveja ficariam os prefeitos vizinhos quando ele, o “João do sétimo distrito”, orgulhoso Intendente de Laranja Amarela, inaugurasse o novíssimo Paço Municipal. Claro que o deputado “padrinho” cortaria a fita inaugural fazendo um “emocionante discurso oficial”.

6. Até aí, sem “maracutaias”; sem superfaturamento e sem sobre preços. Os mais generosos poderiam achar que seriam paradoxais “pecados virtuosos”? Num pensamento inocente, acreditar que era tudo um festival de ingenuidade. Nessa postura de bondade derramada, julgavam que poderia criticar-se o fato de a escola ser construída em Limonada do Norte, quando Carvão Duro estava mais necessitada; ou, por vaidade, fazer um edifício, possivelmente voluptuário para a prefeitura, quando, com o mesmo dinheiro, poderiam ser implantadas duas escolas em bairros carentes. Daí em diante, vem o pior. Alucinados com o “facilitário”, alguns (não muitos, mas bastante) – os verdadeiros “anões do Orçamento” – montaram a criminosa e lucrativa “empresa” que distribuía verbas para, preferencialmente sua região eleitoral. Em função da obra não realizada, simplesmente inacabada, todas ilicitamente majoradas, estava aberto o caminho para exorbitância no preço. É dela que saia a “coima” do parlamentar. No mínimo com a concordância remunerada do prefeito.

7. A criação da CPI pôs em alvoroço as ratazanas parlamentares. A investigação mostrou a milionária quantidade de recursos públicos desonestamente, desviados, e, logo, identificou o destino dos milhões “roubados”: o bolso grande dos ladrões (anões)pequenos.

8. Para a época, macro fortuna; para os tempos de “Lava-Jato”, uma gorjeta que não absolve, mas minimiza a gravidade do delito dos homens pequenos.

9. Na prática, além da saudável cassação dos parlamentares envolvidos (houve casos de injustiça) praticou-se uma limpeza higienizante. Restou a imagem de um deputado baiano – João Alves – que era, na prática, o relator, mais ou menos permanente, a figura que encarnava a Comissão de Orçamento. O tipo padrão do Deputado investigado pela CPI.

10. Com a maior cara de pau, ao ser interrogado sobre a origem de sua grande e recente fortuna, explicou sem pestanejar: “Eu sempre fui um homem de sorte porque acertei, no mínimo 25 vezes, os números da Mega-Sena. E, na quase totalidade desses acertos, o fiz sozinho.

11. Indiscutivelmente, era mesmo um “homem de sorte”. Fico imaginando se os larápios daquele tempo tivessem de enfrentar a sofisticação investigativa empregada exitosamente tanto no “mensalão” (verdadeiro mestrado) como na Lava-Jato (autêntica batalha tipo doutorado na investigação criminal), não haveria prêmios da Mega-Sena para ilustrar a figura “símbolo” do processo: “um gato escondido com o rabo de fora”.

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