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Rio Grande do Sul O Rio Grande do Sul tem uma dívida histórica com indígenas e negros escravizados

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“Retrato de Um Lanceiro Negro”, de Juan Manuel Blanes (por volta de 1850). (Foto: Reprodução)

O Rio Grande do Sul tem uma dívida histórica com seus povos indígenas originários e negros escravizados. Alvo de tentativas de apagamento ao longo do tempo, essa aspecto da formação social, econômica e cultural gaúcha continua a necessitar especial atenção, seja por meio de iniciativas de resgate de tal importância ou da promoção de ações capazes de favorecer um cenário menos desigual, dentre outras iniciativas.

Biólogo, quilombola, ativista, doutor em políticas públicas e presidente da Câmara de Vereadores da cidade de Mostardas (Litoral Sul do Estado), Jorge Amaro de Souza Borges, 45 anos, analisa o tema em recente artigo enviado à imprensa. O texto é reproduzido a seguir.

“O maior dos ensinamentos que os lanceiros negros [pelotão de escravizados que lutaram na Revolução Farroupilha, entre 1835 e 1845, em troca de uma promessa não cumprida de liberdade] nos deixaram foi ter esperança, lutar como se não houvesse amanhã, mesmo que no final, o prêmio seja a traição. E nós insistimos, buscamos o tempo todo mostrar o nosso valor, a nossa força, quem somos, e o que podemos ser.

A Universidade Federal do Rio Grande (Furg) foi uma pioneiras entre as instituições públicas de ensino superior de nosso Estado na oferta de vagas específicas para indígenas e quilombolas, há mais de uma década. Uma conquista dos mais antigos, de líderes que lutaram pelo direito à educação de seus filhos e netos. Com isso, a universidade está mais plural, mais democrática.

A indígena Jaqueline Tedesco, que recentemente perdeu a vida logo após a sua formatura [devido a queimaduras causadas por acidente em restaurante na cidade de Rio Grande], deixa todos de luto. Todos choramos com sua família, com os povos kaigáng de nosso Estado, pela forma como aconteceu e por tudo que ela representava para nós. A cada vez que temos a formatura de um cotista, vibramos com todas as nossas forças e nos sentimentos representados, pois lá não está somente a pessoa, mas também nossa ancestralidade, daqueles que tanto sofreram para que pudéssemos ter vez e voz!

Quis o destino que ela se apaixonasse por um menino de sorriso leve, do Quilombo dos Teixeiras. Um dia desses em Mostardas, encontrei ambos felizes na Feira da Agricultura Familiar Freguesia da Terra e pensei comigo ‘Este é o verdadeiro sentido da luta social por mais direitos aos povos que mais precisam, que possam ter oportunidades aos nossos mais jovens e assim, serem livres para amar e viver de forma plena suas próprias escolhas’. Percebi no sorriso do Jariel e da Jaqueline exatamente isso, jovens que estavam, através de uma política pública, transformando suas jornadas.

Sim, aquele jovem quilombola, envolto na rica herança de sua cultura, encontrou nos olhos profundos de uma jovem indígena a essência de sua própria alma. Em seus encontros, sob a luz suave da lua da península afro-açoriana, trocavam não apenas palavras, mas também os segredos sussurrados pelos ventos e canções ancestrais que ecoavam nas árvores. Suas mãos se uniam em um vínculo sagrado, entrelaçando o passado, o presente e o futuro de seus povos. Nesse amor ancestral, transcendiam as fronteiras impostas pelo tempo e pelo espaço, revelando a eternidade da união entre dois espíritos destinados a serem um só.

Mas uma tragédia lançou nossa jovem em direção à espiritualidade, deixando uma dor profunda àqueles que ficam, principalmente seus familiares, companheiro e amigos. O luto é uma experiência compartilhada mas é crucial reforçar, neste momento de imensa dificuldade, a fé que nos sustentou até aqui e nossa resiliência como seres profundamente humanos, impulsionados pela esperança em dias melhores. Que Jaqueline descanse em paz e lembremos sempre de sua linda caminhada. Que a justiça prevaleça!”.

(Marcello Campos)

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