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Por Redação O Sul | 24 de março de 2016
Após o Senado aprovar o projeto de lei que autoriza a prescrição e o uso da fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”, o nome da substância foi um dos termos mais buscados na internet nesta semana.
Comemorada pelos pacientes da doença, que veem na cápsula uma esperança de cura, a decisão dos parlamentares foi criticada por alguns médicos, já que o composto nunca foi testado em humanos. Para entrar em vigor, a medida ainda precisa ser sancionada pela presidenta Dilma Rousseff.
A fosfoetanolamina não é registrada na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O texto do projeto de lei afirma que a autorização do uso da pílula – desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos da USP (Universidade de São Paulo) – se dá em caráter “excepcional, enquanto estiverem em curso estudos clínicos acerca dessa substância”. Dependendo dos resultados sobre a eficácia, deverá ser exigido registro ou a utilização da cápsula será proibida.
O primeiro estudo oficial sobre a fosfoetanolamina sintética, realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, sugere baixo potencial da substância para combater tumores.
“Sabe-se que já foram feitos testes mais elementares com células e outra pequena pesquisa com animais. Mas mesmo esses dados pré-clínicos são insuficientes. Testar a substância em pessoas envolve muito mais complexidade”, afirma o oncologista Gustavo dos Santos Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. “É uma pílula que se diz não ter efeitos colaterais e funcionar para todo tipo de câncer. Se Deus fez algum remédio assim, guardou para ele. Não existe isso. A fosfoetanolamina pode até ter resultado positivo, mas precisa ser submetida a estudos que validem isso.”
Os defensores da pílula do câncer são pacientes que já a tomaram e afirmam que o efeito foi benéfico.
Baseada nos relatos, a Justiça autorizou a USP a distribuir a cápsula a pessoas que vinham movendo ações para ter acesso a ela. Já a crítica dos médicos vai em cima do fato de o Senado ter invertido a ordem natural de uma droga ser testada antes de ter produção, distribuição e uso permitidos.
“Vamos virar cobaias”, declarou Fernandes. Para o cancerologista Robson Moura, presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, criou-se uma expectativa de que a fosfoetanalamina cura o câncer, mas, “do ponto de vista de saúde pública, não se sabe se isso é verdade”.
Em comunicado, a USP reiterou que a fosfoetanolamina só foi estudada como produto químico, não como remédio. A Anvisa, em nota, afirmou que é “inusitado” uma substância criada há 20 anos nunca ter tido pedido de registro. (AG)