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Por Redação O Sul | 30 de junho de 2017
Procuradores da Operação Lava-Jato em Curitiba (PR) pediram, em nota divulgada nesta sexta-feira (30), que a procuradora Raquel Dodge, indicada para a PGR (Procuradoria-Geral da República), dê “continuidade ao consistente trabalho de combate à corrupção” da instituição.
“A força-tarefa faz votos de que a subprocuradora-geral possa liderar a instituição na continuidade do consistente trabalho de combate à corrupção que vem sendo feito pelo MPF nos últimos anos”, escreveram.
Para eles, Dodge tem “uma respeitada história” no órgão e “demonstrou ter a confiança da classe”. Ela foi a segunda colocada na lista tríplice resultante de votação de integrantes do Ministério Público Federal para a escolha do novo procurador-geral, atrás de Nicolao Dino: obteve 587 votos, contra 621 do primeiro colocado.
A nota da força-tarefa parabeniza Dodge pela indicação -ela ainda será submetida a sabatina no Senado. Se aprovada, será a primeira mulher a comandar a PGR.
Histórico
Dodge é considerada um nome de oposição à atuação do atual procurador-geral, Rodrigo Janot, que apresentou denúncia na segunda-feira (26) contra o presidente Michel Temer (PMDB).
Ao longo de sua carreira, porém, ela se destacou em casos de corrupção, como na Operação Caixa de Pandora, em 2009, que revelou o mensalão do DEM, e no pedido de prisão do então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda.
Em eventos durante a disputa pela PGR, Dodge declarou que a Operação Lava-Jato precisa ser mais célere, e defendeu que o combate à corrupção seja a prioridade do órgão.
“A corrupção é um mal em si. Ela confunde o público com o privado. Devemos combater a corrupção porque ela deteriora o regime democrático que é exatamente baseado na distinção entre público e privado”, afirmou em debate promovido pelo jornal Folha de S.Paulo e pelo site “Jota”, na semana passada.
“Esse trabalho não só é dever como deve ser prioridade, porque tem a ver com tudo aquilo que é a missão principal do Ministério Público”, disse.
Escolha
O presidente da República, Michel Temer, ignorou o tradicional compromisso de nomear o candidato mais votado na eleição interna do Ministério Público Federal e indicou Raquel Dodge como a nova procuradora-geral da República na noite de quarta-feira (28). Essa foi a primeira vez desde 2003 que o presidente da República desrespeita essa tradição.
Na prática, a indicação permite a Temer escolher quem pode investigá-lo depois do término do mandato do atual procurador-geral, Rodrigo Janot, em 17 de setembro. Com o anúncio da indicação, o presidente manda o recado de que Janot está já no final do seu mandato como um intento de tirar força da denúncia que o procurador-geral apresentou contra ele por corrupção passiva na última segunda-feira (26).
Dodge foi a segunda candidata mais votada da categoria, com 587 dos 1.108 votos de procuradores. O candidato mais votado tinha sido Nicolao Dino, que recebeu 621 votos e era considerado o sucessor de Janot. Atual procurador-geral-eleitoral, Dino defendeu a cassação do mandato do presidente no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo crime de abuso de poder político e econômico na eleição presidencial de 2014, quando o peemedebista era o vice na chapa de Dilma Rousseff (PT). O presidente conseguiu se safar por 4 votos a 3.
O desrespeito à tradição ocorreu dois dias depois que Temer foi denunciado por Janot ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelo crime de corrupção passiva. Na quarta o ministro relator da Operação Lava-Jato no STF, Edson Fachin, decidiu enviar a denúncia para a Câmara – que deverá ser autorizada por dois terços dos seus membros – sem ouvir antes ao presidente.