Terça-feira, 11 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de julho de 2020
Os Estados Unidos registraram um crescimento significativo das mortes por Covid-19 pela primeira vez desde abril, quando a pandemia ganhou força no país. Na última semana, o número de óbitos voltou a subir, minando a retórica do presidente Donald Trump de que o aumento recente de casos se devia apenas à ampliação da testagem, e não à aceleração da contaminação, e que isso se refletia no fato de os óbitos não estarem aumentando.
No Texas e no Arizona, onde a situação é mais grave, os novos óbitos aumentaram 319% e 307%, respectivamente, desde o início de junho. Na cidade de Nova York, epicentro da pandemia em abril e maio, as mortes caíram 64% no mesmo período, em meio à reabertura gradual e controlada das atividades, alvo de críticas de Trump e seus aliados.
Desde que governadores aliados a Trump começaram a afrouxar as restrições, em maio, os novos casos saíram de controle: na quinta, o país registrou 75,6 mil novos casos da doença, quebrando recorde pela 11ª vez no mês, segundo o The New York Times. Segundo a contagem da Universidade Johns Hopkins, as novas infecções foram 68 mil, conforme os casos totais ultrapassam 3,6 milhões, com 139 mil mortes.
Até a semana passada, no entanto, as mortes não subiam na mesma proporção dos novos casos, algo que Trump vinha usando para minimizar a crise, afirmando que os novos diagnósticos eram apenas uma consequência do aumento da testagem. Em um tuíte no dia 6 de junho, ele afirmou que a taxa de mortalidade americana era “praticamente a mais baixa do mundo”.
Segundo especialistas ouvidos pelo The New York Times, no entanto, a aparente estabilização das mortes em um momento inicial foi justificada pelo crescimento dos contágio entre os mais jovens, que têm menos riscos de desenvolver casos graves, e pela ampliação da testagem, que facilita o diagnóstico em uma fase inicial da doença. Com isso, o intervalo entre a confirmação da infecção e o óbito seria maior que em março e em abril, quando havia falta de testes. Este hiato teria chegado ao fim na semana passada.
Apesar de uma estabilização aparente nos últimos dias, projeções mostram que o número de mortes deverá continuar a crescer. Alguns dos Estados que veem os aumentos mais acentuados no número de mortes lidam também com a aceleração recorde de novas internações e de novos diagnósticos, sinal de que a subnotificação possivelmente também é significativa.
Segundo o epidemiologista-chefe dos EUA, Anthony Fauci, que se tornou a nêmesis do governo apesar de fazer parte da força-tarefa da Casa Branca para a pandemia, a previsão é que os novos casos diários cheguem a 100 mil caso o surto atual não seja controlado. Ainda assim, Trump pressiona para que todas as escolas sejam reabertas integralmente no início do novo ano letivo, entre agosto e setembro. Em um briefing para a imprensa, a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, disse que “a ciência não pode ficar no caminho da reabertura” das instituições de ensino:
“Quando ele [Trump] diz abertas, ele quer dizer abertas e cheias, com crianças podendo participar das aulas todos os dias. A ciência não pode ficar no caminho disso”, disse McEnany, referindo-se a restrições anunciadas por diversas cidades, como classes reduzidas e aulas on-line e presenciais intercaladas.