Sexta-feira, 03 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de dezembro de 2015
A Câmara dos Deputados, assim como o Senado, é uma instituição secular, fundada no Império, dirigida àquela época por condes e viscondes. Na República, sua Mesa foi frequentada por nomes que se encontram nos compêndios de História do Brasil: Flores da Cunha, Pedro Aleixo, Ulysses e outros. Em tempos recentes, houve a bizarrice de Severino Cavalcanti, cassado por receber um “mensalinho” de 10 mil reais de um concessionário de restaurante na Câmara.
Ungido pela política fisiológica do PT de comprar apoio no Congresso, Severino queria controlar a diretoria da Petrobras que “fura poço”. Um parêntese: ele talvez não soubesse, mas o lulopetismo já havia dominado a direção da estatal e passara a saqueá-la.
No campo do exotismo – mas em outro sentido –, o atual presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), escala índices de rejeição na opinião pública, ao manejar com frieza o poder do cargo e o conhecimento que tem das regras da Casa, para sabotar a tramitação no Conselho de Ética de um processo instaurado contra ele por falta de decoro.
Às favas com a objetividade dos fatos. Cunha, citado na Lava-Jato como beneficiário de propinas geradas na Petrobras, compareceu, por vontade própria, à última CPI da Petrobras e garantiu que não tinha contas escondidas em bancos suíços.
O Ministério Público suíço o desmentiu, ao enviar dados de contas suas e da família à Procuradoria-Geral da República. Configurado o perjúrio, o PSOL e a Rede encaminharam denúncia ao Conselho de Ética. Aberto o processo, Cunha, aliados e tropa de choque fazem de tudo para impedir o funcionamento do Conselho, com a intenção de atrasar ao máximo os trabalhos e jogá-los para 2016.
Inviabilizado um acordo com o governo – mais por resistência de petistas que se recusaram a votar em favor dele –, para que o deputado escape da cassação, os embates no Conselho passaram a reproduzir cenas à altura de câmaras de vereadores do mais longínquo sertão. Tapas, gritaria, intervenções protelatórias de nível rasteiro.
Sem apoio.
Mesmo tucanos que estavam condescendentes com Cunha, para que ele aceitasse o pedido de impeachment de Dilma – arma que o deputado usou para chantagear o Planalto –, o abandonaram. Ainda antes de ele instaurar o processo do impedimento – dentro das prerrogativas do presidente da Câmara, seja ele quem for.
Aberto o processo, passaram-se 38 dias e oito reuniões sem que se conseguisse votar um relatório, diante de um atônito presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA). O primeiro relator, Fausto Pinato (PRB-SP), contestado pelo grupo de Cunha, por se declarar a favor do prosseguimento do processo, disse ter sido ameaçado, e terminou substituído por Marcos Rogério (PDT-RO). Este promete ler seu relatório, também contra Cunha, na terça-feira (15). Mas nada é certo.
O presidente da Câmara deveria renunciar ao cargo, para se dedicar à sua defesa, sem atrapalhar os trabalhos da Casa. Seu tempo acabou. (AG)