Quinta-feira, 12 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 30 de maio de 2019
Quando realizou o sonho de chegar ao cume do Everest, às 3h11min do último dia 22, o brasileiro Juarez Soares, 48 anos, não sentiu uma “explosão de sentimentos”, como imaginava. “Senti uma força muito grande, mas ao mesmo tempo a razão me puxava. Tinha uma montanha para descer, precisava focar na tarefa. É perigoso.”
Tanta concentração tem razão de ser. A aventura de escalar a maior montanha do mundo pode se tornar mortal – nesta temporada, a mais letal desde 2015, foram 11 vítimas, algumas em meio a engarrafamentos de alpinistas. Além disso, acidentes acontecem com mais frequência no caminho de volta, quando a pessoa está mais cansada e baixou a guarda por ter cumprido o objetivo. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Soares, o 24º brasileiro a atingir o topo do Everest na história e o primeiro neste ano, fez o “ataque” ao cume (a subida final) nos dias com mais filas. Sua estratégia foi sair cedo, às 17h, já que a maioria das pessoas deixa o acampamento depois do anoitecer, para chegar de manhã.
“Não pegamos fila porque estávamos no contrafluxo”, contou, por telefone, logo após chegar ao Brasil. “Enquanto o pessoal subia a gente descia.”
No trajeto, viu corpos, dois deles de pessoas mortas havia poucas horas – a dificuldade de acesso complica o resgate.
O brasileiro, que escala há 18 anos e já atingiu o pico de seis das sete maiores montanhas do mundo, tomou vários cuidados. Treinou intensivamente nos seis meses pré-viagem, contratou um guia de confiança e, uma vez no acampamento-base, passou mais de 20 dias se aclimatando à altura (subindo e descendo distâncias gradativamente maiores).
Mesmo assim, um pequeno acidente quase o impediu de continuar. Soares escorregou em um pedregulho coberto de gelo, machucou a coluna e a costela. “Tem que fazer um planejamento impecável, mas sempre vai ter um fator imponderável”, diz.
Conseguiu se recuperar e continuar a empreitada. Ele e seu guia ficaram no cume por 20 minutos, aguentando uma temperatura de -37ºC. “A gente faz aquele esforço todo, enfrenta vento, frio, tira as fotos de praxe, abraça o companheiro, agradece a Deus e desce depressa”, disse.
Na volta, foi relaxando aos poucos. “Até agora a ficha está caindo. É bacana ter chegado ao cume. Mas não tenho a sensação de que conquistei a montanha. Sinto humildade e respeito por ela”, afirmou.
Moeses Fiamoncini, 39, o outro brasileiro que chegou ao pico do Everest nesta temporada, também evitou o engarrafamento de alpinistas na subida. No caso dele, por chegar mais tarde que o fluxo. “Eram 11h30, e a maioria chega às 7h, 8h. Enquanto todos desciam, nós subíamos”, contou ele, que ainda está no Nepal.
O alpinista subiu sem oxigênio suplementar até 8.300 metros e acompanhou o colega chileno Juan Pablo Mohr, que completou o trajeto todo sem esse auxílio, o que tornou seu ritmo mais lento. Foram 15 horas do último acampamento até o topo.
“Cada um tem que saber escutar o seu corpo, e a experiência leva a isso. A decisão de tomar ou não oxigênio tem que ser tomada em um estágio consciente físico e psicológico, e não quando a pessoa já está muito mal”, diz.
A descida foi em condições extremas: sob tempestade de neve com ventos de 65 km/h.
Fiamoncini, que escala desde 2008, agora quer completar todos os picos de mais de 8.000 metros do mundo. Foi o primeiro brasileiro a escalar o monte Manaslu, de 8.156 m, também no Nepal, e agora irá para o perigoso K2, no Paquistão, segundo maior montanha do mundo.
Juarez Soares também não se deu por satisfeito com o Everest e tem outros projetos em vista – por exemplo, escalar vulcões no Equador e completar as dez montanhas mais altas do Brasil junto com os filhos, de 15 e 19 anos. “Quando a gente é mordido pelo bichinho da montanha, não consegue ficar longe.”