Domingo, 28 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 9 de agosto de 2015
A possibilidade de não poder ter um filho e derrubar o sonho de uma família rondou o lar do fisioterapeuta Ricardo Padovan, 37 anos, morador de Salto (SP). Com problemas de hipotiroidismo, a mulher dele foi informada por médicos que as chances de engravidar eram praticamente nulas. Anos depois, contrariando os diagnósticos, o casal recebeu a notícia de que esperava um bebê.
“Sonhávamos em ter um filho, mas a médica da minha esposa dizia ser impossível que ela engravidasse. Os anos se passaram e quando menos imaginávamos, os sintomas vieram e foi confirmada a gravidez”, conta Ricardo. Porém, problemas durante a gestação de Arthur e a orientação para não correr o risco de seguir adiante abalaram o casal. “Por algumas vezes, ela [esposa] teve sangramentos e até chegou a ser dada a hipótese de retirar a criança caso os sangramentos continuassem.”
A situação fez com o fisioterapeuta fizesse uma promessa: Se o filho nascesse com saúde, ele remaria de Paraty (RJ) até Santos (SP), um percurso de quase 300 quilômetros. “Na 38ª semana de gestação, ela começou a entrar em trabalho de parto, e eu fiz a promessa que se o Arthur nascesse saudável eu iria de Paraty a Santos, sozinho, remando de Surfski – um tipo de caiaque –, sem apoio por mar e terra”, resume Ricardo.
Atualmente, Arthur está com cinco meses e com a saúde em dia, segundo o pai. Ricardo explica que a ação dele é para que um dia o filho saiba do esforço que fez para demonstrar que o amor vence qualquer tipo de barreira imposta pela vida.
O desafio.
Ricardo remou, ao todo, 290 quilômetros em quatro dias e meio. Praticante do esporte há 10 anos e com acompanhamento médico, o fisioterapeuta revela que durante o percurso sofreu com a desidratação, mudanças climáticas, baleias, e que o choro foi um dos seus “companheiros” nos momentos do desafio.
“Tiveram três ou quatro momentos que achei que não seria possível prosseguir. Chorava e conversava muito comigo mesmo, mas o segredo era manter a calma e procurar a melhor saída. Os problemas enfrentados foram vários, desde baleias no caminho, o mar virar e ficar em condições ruins de navegação, a neblina me deixar sem meu ponto de referência, as chegadas e saídas com ondas nas praias, como navegar no mar durante a noite”, relata o fisioterapeuta.
Até a saúde do Ricardo ficou comprometida durante o trajeto. “No primeiro dia eu fiquei muito enjoado, remei o dia inteiro sem beber água e comer por um dos mais temidos pontos de navegação do Brasil, a famosa Ponta da Joatinga. Também tive uma alergia muito forte. Brotaram placas vermelhas pelo corpo, quando justo neste dia eu teria que remar 90 quilômetros, tendo que terminar de fazer este trecho navegando de noite no mar por quatro horas sem bússola, totalizando 14 horas remadas sem interrupção.”
Sozinho durante todo o percurso, ele utilizou uma rede social para se comunicar com familiares, amigos e pessoas que o acompanharam. Uma espécie de diário de bordo ajudou o fisioterapeuta a se localizar e poder divulgar a promessa em tempo real. Ao fim de cada dia, postagens com impressões e avaliações do percurso eram divulgadas.
“Eu usei um localizador por satélite que emitia um sinal para uma página onde haviam centenas de pessoas acompanhando meu deslocamento em tempo real por toda viagem. Durante as minhas paradas, eu relatava a todos o que acontecia, até para justificar as complicações que eu tinha na viagem”, conta Ricardo. “Espero poder ser mais que um pai para ele. Sonho em ser um amigo em que ele possa sempre contar e que também possa se espelhar e se orgulhar do pai dele, que nunca mediu esforços. Que um dia remou pelo oceano sozinho por ele”, finaliza. (AG)