Domingo, 28 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 1 de setembro de 2015
Depois de posar para dois retratos, um de costas para a câmera do celular, com as pernas nuas e calcinhas vermelhas listradas semitransparentes, o outro de frente, exibindo os seios pintados de vermelho e penachos na cabeça, a dupla de latinas lucrou apenas um dólar. Elas até protestaram, em espanhol, mas com carinho.
Abraçaram e rebolaram para o consumidor, que se mostrou contente com a insistência, mas manteve a oferta. Uma delas, venezuelana, não quer conversa. A outra, colombiana, começou a descrever o negócio, mas parou para fazer mais uma sessão. A concorrência é farta. Todas as noites, a Times Square, um dos cartões postais de Nova York, está repleta de “desnudas”. E “desnudos” também. São tantas e tantos, agora, que o prefeito da cidade, Bill de Blasio, estuda reabrir trechos da praça que foram fechados para os carros.
A medida, tomada há seis anos pelo seu antecessor, Michael Bloomberg, causou polêmica. Mas acabou virando símbolo de ações para favorecer os pedestres na cidade. Além dos peladões, o espaço onde antes trafegavam carros abriga uma fauna diversificada. Turistas tiram fotos de fantasiados de Homem Aranha, Minnie, Super Mário, policiais – e de si mesmos.
Um cowboy de cueca branca, botas e chapéu toca violão para ganhar um trocado. Um indiano, funcionário de um hospital das redondezas, chega nu, com um tapa-sexo preto, para falar sobre “liberdade corporal” com as latinas – que o ignoram.
As desnudas dizem que só podem falar com autorização do seu “gerente”. Abel Rios, 21 anos, sobrevive no verão da “administração” de cinco mulheres. No inverno, diz que é vendedor em uma loja. Já são quatro anos assim. Agora, querer vetar a atuação do grupo seria “egoísta e irracional” da parte do prefeito, diz Rios. “Mostra que ele não está nem um pouco preocupado com os contribuintes que pagaram por toda a reforma da Times Square.”
Comitê.
De Blasio anunciou, há alguns dias, que, até outubro, tomará uma decisão, a ser examinada por um comitê, avaliando “prós e contras”. Defensores do uso do espaço público por pedestres e ciclistas se opõem a eventual fechamento. Mas setores conservadores se mostram insatisfeitos com os rumos que a Times Square tomou.
“Eu preferiria acabar com a coisa toda e voltar a como era antes”, afirmou o policial William Bratton. Os agentes que vigiavam a praça disseram não poder se manifestar sobre o tema. O próprio de Blasio não se mostrou confortável com a exposição dos peladões. “Como ser humano e pai, não acho apropriado.”
Para turistas brasileiros, a discussão passa ao largo. “Aqui, isso é normal. Nós é que somos muito preconceituosos no Brasil”, opina a psicóloga Tatiana Laroca, 40. “Viemos passear e conhecer a cultura daqui. Não se pode acabar com essa atração”, disse a brasileira. (Folhapress)