Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de fevereiro de 2019
Chamado publicamente de mentiroso pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro-chefe da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, não conseguiu se garantir no cargo após negociações que envolveram ministros palacianos nesta sexta-feira (15). Após se reunir com Bebianno, Bolsonaro teria avisado a ele e a aliados sobre a demissão – e que a saída do ministro poderá ser formalizada na segunda-feira (18), segundo informou a coluna Painel, do jornal Folha de S.Paulo.
Bebianno tornou-se o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto após a Folha revelar um esquema candidaturas laranjas do PSL, presidido pelo ministro entre janeiro e outubro de 2018. Após reunião com o presidente, Bebianno avisou a aliados que deixará o cargo.
Bebianno chegou ao hotel onde mora em Brasília por volta de 19h30min e, ao ser abordado, disse que não daria declarações sobre situação. Um assessor do governo que participou das conversas relatou que o clima azedou no meio tarde, horas depois de ter ficado definido que Bebianno teria sobrevida no cargo.
Embora tentasse um encontro pessoalmente com o presidente desde quarta-feira (13), Bebianno só foi recebido no fim da tarde, após ministros e aliados entrarem no circuito. A conversa entre Bolsonaro e Bebianno teria sido ríspida, e o presidente chegou a deixar um ato de exoneração assinado. A gota-d’água, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados, exclusivos da Presidência, entre Bolsonaro e Bebianno ao site O Antagonista e à revista Veja.
Nesta semana, o presidente chegou a endossar os ataques feitos pelo seu filho, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), em que Bebiannofoi chamado de mentiroso nas redes sociais por declarar ter conversado por três vezes com Bolsonaro em meio à crise das candidaturas laranjas.
Outra declaração que comprometeu a relação entre ambos foi a entrevista à TV Record em que Bolsonaro afirmou que, se for responsabilizado pelo caso dos laranjas do PSL, Bebianno precisará retornar às suas “origens”, ou seja, deixar o governo.
As negociações para evitar uma queda de Bebianno na sexta-feira começaram logo cedo no Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro ainda se recupera de uma cirurgia.
Às 9h, foram à residência oficial os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), junto com a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP). Os três saíram dali com uma proposta em mãos: propor a Bebianno um acordo para que ele seguisse no cargo.
O grupo disse a Bolsonaro que a demissão de um de seus auxiliares dessa forma – em crise exposta nas redes sociais – fragilizaria a imagem sobre a confiabilidade do presidente e do governo perante o Congresso e a opinião pública. Foi ponderado que isso poderia colocar em risco uma das prioridades de sua gestão: a aprovação da reforma da Previdência, que será apresentada na semana que vem.
Após o aval de Bolsonaro, os três se reuniram com o chefe da Secretaria-Geral às 11h30min, na Casa Civil, em encontro que não estava previsto na agenda. Onyx levou ao colega a proposta de que precisava manter discrição e silêncio para seguir como ministro.
Bebianno assentiu e depois deixou o Palácio do Planalto por uma porta lateral, usada por visitantes e raramente frequentada por autoridades. Ao ser abordado pela TV Globo, respondeu que não sabia se ficaria no cargo.
Bolsonaro foi aconselhado por auxiliares a demonstrar que estava reassumindo as rédeas do governo e, contrariando recomendações médicas, apareceu de surpresa no Planalto no início da tarde.
Ele chamou então 11 de seus 22 ministros, numa conversa em que pediu que sua equipe evitasse falar em crise e transmitisse à população e à imprensa um ar de normalidade.
Bebianno ficou de fora do encontro, mas foi recebido na sequência, em uma agenda na qual estavam, além dele e de Bolsonaro, o vice-presidente, Hamilton Mourão, Onyx e o chefe do GSI, general Augusto Heleno. Aliados de Bolsonaro também querem que o filho Carlos reduza o tom de postagens nas redes sociais que possam comprometer o governo.