Quinta-feira, 18 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 23 de maio de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Abrir de vez? Abrir aos poucos? Manter o distanciamento social como está? Avançar para o lockdown, a forma mais radical de isolamento? Essa são as perguntas que não calam na pandemia.
Uma coisa é certa: não dá para ficar mais dois, três ou cinco meses em isolamento. O país não tem recursos e há milhões de pessoas que já estão, agora, no limite da sobrevivência.
Fica fácil defender o isolamento, e só o isolamento, para quem está recebendo salários em dia e pode ficar em casa. Tenho todo o respeito pelos infectologistas. Mas a maioria deles, que agora ditam os procedimentos de nossa vida, são servidores públicos. Conhecem virologia, epidemiologia, expansão das viroses e doenças infecciosas, mas nunca experimentaram as agruras da vida das populações mais pobres, dos trabalhadores informais, da legião de desempregados.
Já é tempo de romper a lógica do isolamento, mas não a qualquer preço, como propõe Bolsonaro. Por isso, é preciso dar realce ao plano de revisão gradual do regime de quarentena do governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. É uma boa nova em meio ao flagelo.
Sem alarde, trabalhando quase em silêncio, ouvindo os atores e respeitando os interesses em jogo, mas priorizando a saúde da população, Leite apresentou um plano que, na sua racionalidade e simplicidade, oferece uma alternativa para responder aos desafios da hora.
O Estado foi dividido em 20 regiões. Elas são consideradas sob 11 indicadores diferentes da doença, tais como número atual e evolução recente de infectados, óbitos, ocupação e disponibilidade de leitos hospitalares e equipamentos médicos. As regiões são classificadas por bandeiras, de cor amarela, quanto melhores estiverem os indicadores da doença e os equipamentos disponíveis para tratamento, seguindo-se as bandeiras laranja, vermelha e preta, esta última correspondendo à situação mais crítica.
Quanto mais satisfatória for a situação da respectiva região, mais amplos serão os setores e segmentos que poderão retomar as atividades. A abertura se dará sempre com a adoção de rígidos protocolos, como o uso de máscaras (agora obrigatório em todo o estado), a testagem de temperatura, a utilização ampla da assepsia com água e sabão e álcool gel, etc.
A cada semana a situação de cada região será reavaliada, podendo ser reclassificada para cima ou para baixo, mantendo, aumentando ou reduzindo as restrições.
Simples assim. É pouco? Não, não é, no país aturdido pela pandemia, em que o governo federal, que deveria centralizar as ações, se conduz de forma errática, descoordenada – de um lado as autoridades sanitárias afirmando a importância do isolamento social, e de outro, o boicote ostensivo do próprio presidente da República. Com a saída de Nelson Teich – não disse a que veio, mas se retirou com honra e altivez – tudo leva a crer que o novo Ministro da Saúde será Bolsonaro, acumulando o cargo ou por interposta pessoa.
O plano vai dar certo? Vai reduzir os danos? Uma luz no túnel escuro? O tempo dirá. Mas tem uma condição básica para o êxito: há um plano – lógico, racional, viável, com começo, meio e fim. Alvíssaras!
titoguarniere@hotmail.com
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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