Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2015
Imagine que sua filha se casará. Engravidou do primeiro namorado, um rapaz mais velho que ela conheceu na vizinhança. Deixará de estudar por causa da gravidez e do marido. O jovem casal morará na casa dos pais dele. No entanto, ela tem apenas 12 anos.
O casamento de crianças e adolescentes brasileiros, como na situação narrada acima, é o tema da pesquisa “Ela vai no meu barco”. A análise foi realizada pelo Instituto Promundo, organização não governamental que estuda questões de gênero.
De acordo com o Censo 2010, pelo menos 88 mil meninos e meninas com idades de 10 a 14 anos estavam casados em todo o Brasil. Na faixa etária de 15 a 17 anos, esse número é de 567 mil.
A partir dos dados do Censo, a equipe de pesquisadores foi ao Pará e ao Maranhão, Estados onde o casamento infantojuvenil é mais comum, e mergulhou no universo das adolescentes que tão cedo têm que se transformar em adultas.
Em uma pesquisa qualitativa, foram entrevistadas 60 pessoas, entre garotas de 12 a 18 anos, seus maridos (todos com mais de 20 anos), seus parentes e funcionários da rede de proteção à infância e adolescência no Brasil. A idade média das jovens entrevistadas foi de 15 anos; seus maridos são, em média, nove anos mais velhos.
Os pesquisadores descobriram que, no Brasil, esse tipo de união é bem diferente dos arranjos ritualísticos existentes em países africanos e asiáticos. O que acontece aqui é um fenômeno marcado pela informalidade, pela pobreza e pela repressão da sexualidade. Normalmente as uniões são informais (sem registro em cartório) e consideradas consensuais.
Naturalização
Entre os motivos para esses casamentos ocorrerem, a coordenadora do levantamento, Alice Taylor, pesquisadora do Instituto Promundo, destaca a falta de perspectiva das jovens e o desejo de deixar a casa dos pais como forma de encontrar uma vida melhor. Muitas delas fogem de abusos, escapam de ter de se prostituir e convivem de perto com a miséria e o uso de drogas. As entrevistas das jovens, transcritas no relatório final da pesquisa sob condição de anonimato, mostram um pouco do que elas enfrentam, como uma que diz ter saído de casa por causa do padrasto, que a maltratava.
(BBC)