Terça-feira, 23 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de dezembro de 2021
A PF (Polícia Federal) rastreou saques e entregas de dinheiro vivo no escritório do deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA) em uma investigação para apurar desvios de emendas parlamentares pagas a municípios do Maranhão por intermédio do parlamentar. Um vídeo gravado em ação controlada da PF, obtido pelo jornal O Globo, mostra o deputado federal manuseando uma caixa de dinheiro e a entregando para um homem desconhecido. Na gravação feita pela PF, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), o próprio parlamentar afirma que a caixa continha R$ 250 mil. Maranhãozinho nega qualquer irregularidade e diz que a imagem retrata a sua atividade empresarial na pecuária “com compra e venda de gado e equipamentos com órgãos privado”.
O vídeo faz parte de uma investigação sigilosa envolvendo Maranhãozinho por suspeita dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude em licitação. A PF desconfia que o dinheiro manuseado pelo deputado seria proveniente de um esquema de desvio de emendas parlamentares por meio de prefeituras do Maranhão, que contratariam empresas ligadas ao parlamentar para desviar os recursos.
Em abril de 2020, Maranhãozinho alocou R$ 15 milhões em emendas parlamentares destinadas à área da saúde para diversas prefeituras do Maranhão. Alguns dos municípios beneficiados contrataram, inclusive com dispensa de licitação, empresas que, segundo a PF, possuem vínculos com o parlamentar, como a Aguia Farma, a Medshop e Atos Engenharia. Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de combate à lavagem de dinheiro, identificaram “vultosos saques” nas contas dessas firmas.
A Medshop, por exemplo, recebeu R$ 3,9 milhões por meio dos fundos de saúde de cinco municípios. Após o repasse, entre junho e agosto de 2020, foram feitos 13 saques em espécie das contas da empresa no valor total de R$ 3,1 milhões.
A PF também monitorou saques em agências bancárias feitas em nome das empresas por pessoas que, em seguida, iam até o escritório de Maranhãozinho localizado em São Luis, no Maranhão.
Com base nessa suspeita, a PF instalou câmeras para gravação de áudio e vídeo no escritório do deputado e monitorou, no fim do ano passado, diversos diálogos sobre entrega de dinheiro vivo, além de imagens do parlamentar com caixas de dinheiro.
Ao longo da investigação, a PF produziu uma série de relatórios descrevendo as gravações feitas durante a ação controlada realizada no escritório do deputado. “Em outro diálogo captado, Josimar (Maranhãozinho) pede para que uma funcionária sua ligue para Helio Soares, seu assessor, para levar para o escritório o montante de um milhão de reais (recurso de um conto) que estava em sua residência”, informou a PF ao Supremo Tribunal Federal.
A PF também descreveu ao STF outro diálogo: “Josimar (Maranhãozinho) utiliza o telefone fixo para falar com alguém, pedindo que ‘Sim, vê com a Marta aí pra separar 150 (cento e cinquenta), tá? Porque eu vou ter que passar pro Marcelo. E, liga pro Hélio aí pra trazer aquele recurso que nós mandamos pra casa dele … tem 01 (um) conto lá … ‘”.
De acordo com a PF, “o deputado Maranhãozinho liberou o valor aproximado de quinze milhões de reais em emendas parlamentares para municípios de seu curral eleitoral. Posteriormente, os municípios contrataram com dispensa de licitação empresas (provavelmente de fachada — Aguia Farma, Medshop, Atos Engenharia, entre outras) em nome de interpostas pessoas (as empresas provavelmente pertencem tacitamente ao deputado) e assim os municípios transferiram dinheiro a estas empresas, sendo que os valores estão sendo sacados e o dinheiro é transportado até o escritório do parlamentar em São Luís”.
Após a ação controlada, a PF chegou a pedir a prisão do parlamentar, apontando que ele descumpriu uma das medidas cautelares que o impedia de manter contato com outros investigados. O ministro Lewandowski, entretanto, negou o pedido sob argumento de que a Constituição permite a prisão de parlamentares apenas em casos de flagrante delito de crime inafiançável.
O gabinete do deputado afirmou, em nota: “Os vídeos e mídias em geral divulgados pela imprensa foram gravados dentro do meu escritório privado e pessoal que fazem parte de minha atividade empresarial na pecuária com compra e venda de gado e equipamentos com órgãos privados, atividade empresarial condizente com o patrimônio e devidamente declarada junto à Receita Federal. Esses vídeos e mídias em questão fazem parte de um inquérito sigiloso, que têm sido divulgados fora de contexto, que nada tem a ver com desempenho de atividade parlamentar ou política, muito menos se referem a recursos de emendas. Todas as medidas já estão sendo tomadas pelo setor jurídico no sentido de requerer responsabilização pelo vazamento proposital de dados após meses da abertura de inquérito e efetivação de medidas cautelares, de forma a associar, em dado momento político, indevidamente a imagem do deputado Josimar Cunha Rodrigues para nítido fim de perseguição política”. As informações são do jornal O Globo.