Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 16 de março de 2021
Depois de subir 18% em 2020 e ficar escassa na mesa dos brasileiros, a carne continua registrando alta nos supermercados, devido a problemas climáticos e aumento dos custos na linha de produção.
Em fevereiro, o alimento subiu 1,72% na comparação com janeiro e, nos últimos 12 meses, registra alta de 29,5%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), publicado na última quinta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA é o índice que mede a inflação oficial no País.
Em fevereiro, o corte com maior variação foi o lagarto comum, com avanço de 3,60%. Já o contra filé aumentou 2,06% e a alcatra subiu 3,05%. Diferentemente destas carnes, a de porco, por exemplo, caiu 2,05%.
Com os preços mais salgados, a população tem escolhido ovo e frango como mistura.
Especialistas acreditam que cortes de custos pelos frigoríficos e menos consumo na quaresma podem fazer com que a alta de preços seja freada. Contudo, a aprovação de uma nova rodada do Auxílio Emergencial pode elevar a demanda e, consequentemente, puxar novamente os preços.
Uma das explicações para a alta de preço é a menor disponibilidade de gado para o abate, que vem acontecendo desde 2020, segundo o assessor técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Nissen.
Ele explica que tudo começou ainda nos anos anteriores a 2019, quando havia uma presença maior do abate de fêmeas. Isso levou a uma menor quantidade de bezerros atualmente o que, por sua vez, diminuiu a oferta do animal para o abate.
“Quando a gente observa as escalas de abates dos frigoríficos, eles estão com dificuldade de comprar boi para levar para o frigorífico efetivamente, porque o mercado está muito vazio”, comenta.
Mas este não é o único motivo para o crescimento dos preços. De acordo com Nissen, no final do ano aconteceu uma seca mais longa do que o normal, o que levou a um atraso na produção do boi de pasto.
Sem o pasto, o boi não obtém todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento e o produtor precisa investir em suplementos para resolver este problema, conta o assessor.
Além disso, a produção pecuária está mais cara também devido à desvalorização do real, como explica o coordenador do Índice de Preço do Consumidor (IPC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV – IBRE), André Braz:
“A carne brasileira sofre duas ações do dólar. Ele tanto favorece a exportação porque, quanto mais a gente exporta, a gente recebe em dólar (…) Essas vendas aumentam quando a nossa moeda desvaloriza porque todos querem comprar do Brasil”, diz.
“Mas, por outro lado, essa desvalorização cambial também aumenta os custos da pecuária e da criação de outros animais”, complementa.
“Isso onera o pecuarista. Se, por um lado, ele consegue vender melhor porque está vendendo em dólar, por outro, ele tem custos pressionando a cadeia produtiva”, completa.
Todos esses custos são repassados ao consumidor final, elevando os preços.
No IPC, o aumento do valor da carne também foi percebido, sendo identificada uma variação de 0,94% em janeiro, para 1,24% em fevereiro, acumulando alta de 26,92% em 12 meses.
Apesar da menor oferta, o Brasil ainda é um grande produtor – e, deste modo, consegue suprir a demanda interna, segundo o assessor técnico da CNA, Ricardo Nissen.
“A gente é o segundo maior mercado produtor de carne bovina do mundo. A questão é: a gente tá colocando menos carne no mercado. Mas não vai faltar carne, só tem uma pressão maior”, afirma Nissen.