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Saúde Psiquiatras vão utilizar o princípio ativo do ecstasy nos consultórios

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O neurocientista Eduardo Schenberg fez parte da equipe que monitorou as funções cerebrais durante o uso de LSD; agora investiga o MDMA. (Foto: AG)

O comprimido é usado em festas, causa euforia e é ilegal. Por décadas, o MDMA — o princípio ativo do ecstasy – foi usado às escondidas, até ser redescoberto pela ciência. Em março, uma equipe de pesquisadores liderada pelo neurocientista Eduardo Schenberg vai avaliar, com a ajuda de voluntários brasileiros, o potencial da metilenodioximetanfetamina (seu nome completo) para tratar o transtorno de estresse pós-traumático. Até hoje a ciência ainda não conseguiu desenvolver bons tratamentos para esse distúrbio psiquiátrico.

A equipe de Schenberg vai selecionar quatro pacientes que sofrem com o transtorno há mais de seis meses e não responderam às abordagens convencionais. Dez interessados já entraram em contato. Com o estudo, o primeiro a avaliar a segurança e o potencial terapêutico do MDMA no Brasil, o país passa a fazer parte de um esforço de pesquisa internacional. Nos EUA, estudos assim são realizados desde os anos 1990, com resultados positivos. O composto já despertou a atenção do governo americano – em agosto, a FDA, órgão responsável por regulamentar remédios e tratamentos, classificou as terapias com MDMA como “disruptivas”. O status indica que os EUA pretendem acelerar a regulamentação do tratamento, para torná-lo disponível ao público nos próximos anos.

Os pacientes brasileiros farão 15 sessões semanais de psicoterapia, sendo três sob efeito da droga, para discutir seus traumas com uma dupla de terapeutas. Tudo em ambiente controlado – um consultório com sofás e música instrumental — e na presença de médicos prontos a atender emergências. O financiamento ficou por conta da ONG criada por Schenberg, a Plantando Consciência, que levantou R$ 53,3 mil através de uma campanha de crowdfunding. A substância, fabricada nos EUA, será fornecida pela Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (MAPS, na sigla em inglês) – organização sem fins lucrativos pioneira em estudos sobre o tema.

O distúrbio acomete vítimas de violência grave, como estupro e sequestro, ou que vivenciaram guerras e desastres naturais. Tratá-lo é um desafio: a abordagem tradicional envolve sessões de terapia, conduzidas por psicólogos; e antidepressivos, receitados por psiquiatras. Cabe ao paciente frequentar os consultórios desses dois profissionais. Os benefícios podem levar anos para aparecer. Muitas vezes, nunca surgem:

“A terapia tradicional falha porque muitas vezes o trauma foi tão violento que o paciente sequer consegue falar a respeito”,  afirma Schenberg.

Os estudos da MAPS demonstraram que, com o auxílio do MDMA, os pacientes se sentem mais livres para discutir seus traumas. E os benefícios aumentam: um trabalho publicado em 2010 mostrou que 83% dos pacientes relataram melhoras, contra 25% daqueles que receberam placebo. Os benefícios são duradouros – em outro estudo, publicado em 2012, os cientistas mostraram que pacientes que fizeram a terapia no início dos anos 2000 não manifestavam sintomas da doença, mesmo mais de dez anos depois.

O interesse de Schenberg pelo tema é antigo. O cientista, formado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), fez parte da equipe do Imperial College de Londres que monitorou as mudanças nas funções cerebrais durante o uso de LSD, outra droga psicodélica — nome dado às substâncias que alteram a percepção da realidade. Seus achados, publicados em 2016, chegaram a ser chamados de “o Bóson de Higgs” da psiquiatria, em referência à partícula fundamental detectada em 2012.

Seu novo estudo não tem vínculos oficiais com nenhuma universidade brasileira, mas será acompanhado por três conselheiros que são professores universitários: o psiquiatra Dartiu Xavier, da Unifesp (que ajudou Schenberg a selecionar os terapeutas que participarão da pesquisa); o professor Luís Fernando Tófoli, da Unicamp; e o neurocientista Sidarta Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Com apenas quatro voluntários, a pesquisa brasileira é o que os cientistas chamam de ensaio clínico fase 2. Em junho deste ano, a MAPS dará início a um ensaio clínico fase 3 — a última etapa exigida pela FDA para disponibilizar o novo tratamento ao público. Devem participar 300 voluntários, divididos em centros de pesquisa nos EUA, Canadá e Israel. O Brasil também pretende entrar nesse grupo, logo que concluir o estudo atual. Nos cálculos da MAPS, o tratamento poderá estar disponível aos americanos até 2021. Para o mesmo acontecer no Brasil, é preciso registro na Anvisa.

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https://www.osul.com.br/psiquiatras-vao-utilizar-o-principio-ativo-do-ecstasy-nos-consultorios/ Psiquiatras vão utilizar o princípio ativo do ecstasy nos consultórios 2018-03-04
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