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Mundo Quatro pontos para entender as manifestações em Hong Kong

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Manifestante carrega guarda-chuva durante os protestos em Hong Kong. (Foto: Reprodução)

Os protestos em Hong Kong, sem liderança definida mas bem coordenados, passaram por uma virada. A invasão do Parlamento, algo inédito nos atos que se estendem por semanas, trouxe novos elementos a um movimento que, até então, era bastante coeso.

Cenas de vidros e móveis quebrados e paredes pichadas no prédio do Conselho Legislativo levaram alguns moradores a questionar algumas das táticas usadas nos protestos. Os defensores da escalada de violência, entretanto, afirmam que os atos pacíficos não deram resultados, e que não tinham outra opção para fazer ouvir suas demandas, incluindo o arquivamento definitivo de um projeto de lei de extradição que permitiria o envio de pessoas para serem julgadas na China.

O conflito pode afetar não só o status de Hong Kong como um centro financeiro internacional, mas também sua posição semiautônoma em relação à China, conquistada quando o território foi devolvido a Pequim pelos britânicos, em 1997. Na ocasião, Hong Kong manteve sistemas político, jurídico e administrativo próprios, no arranjo conhecido como ” um país, dois sistemas “.

Abaixo, estão os principais pontos para entender os protestos recentes e a razão pela qual se tornaram violentos na segunda-feira.

Movimento digital e sem lideranças é questionado

Não há nenhum líder ou grupo que sozinho determine a estratégia, as táticas e os objetivos das manifestações — os próximos passos costumam ser definidos em fóruns digitais e aplicativos de mensagem. Qualquer um pode fazer sugestões e os outros membros votam por apoiá-las ou não. As ideias mais populares avançam e as pessoas se movimentam para pô-las em prática.

Este modelo horizontal estimulou as pessoas a participarem dos atos, e, segundo os manifestantes, aumenta sua segurança ao impedir que o governo vise alvos específicos.

As desvantagens da falta de liderança, contudo, vieram à tona na segunda-feira. A organização horizontal torna mais difícil distinguir os milhares de manifestantes que marcharam pacificamente do grupo que arrombou e invadiu o Parlamento. Também não permite que lideranças desencorajem esse tipo de violência. Ainda que muitos manifestantes tenham participado da invasão do edifício, muitos outros desaprovaram a destruição, criando uma divisão entre residentes de Hong Kong que até então compartilhavam os mesmos ideais.

Apesar da falta de liderança clara, os manifestantes demonstraram ter muita coordenação nos protestos, planejando os movimentos de antemão. Estações de abastecimento são montadas para distribuir água, lanches, luvas, guarda-chuvas e escudos feitos de papelão. Voluntários de primeiros socorros usam coletes coloridos. As pessoas se organizam em filas para transportar suprimentos de mão em mão em longas distâncias, com manifestantes dizendo do que precisam com sinais de mão previamente combinados. Capacetes e máscaras são oferecidos a qualquer um que ande desprotegido em áreas perigosas.

Ainda assim, ninguém pode falar em nome dos manifestantes, o que torna as negociações difíceis, se não impossíveis. Carrie Lam, a chefe do Executivo de Hong Kong, chamou a falta de liderança de uma potencial “fraqueza fatal” do movimento, já que isso permitiu que um pequeno grupo de manifestantes violentos desse o tom de todo o grupo.

Uma vitória, novas reivindicações

Carrie Lam tinha bastante apoio político no Legislativo local, de maioria pró-Pequim, para aprovar a polêmica lei que permitiria extradições para a China. O projeto começaria a ser discutido no início de junho e seria votado algumas semanas depois.

Milhares de pessoas, entretanto, tomaram as ruas da cidade no dia 9 de junho e, 72 horas depois, manifestantes bloquearam a entrada do prédio do Legislativo. Quando um grupo tentou ingressar no edifício, a polícia respondeu com gás de pimenta, balas de borracha e cassetetes.

Depois que um protesto no dia 16 de junho registrou participação recorde, Lam se viu forçada a fazer uma grande concessão: adiar a discussão da lei, mesmo que temporariamente. A suspensão foi uma vitória incontestável dos manifestantes — mas não conseguiu acalmar os ânimos. Como a lei ainda pode ser reintroduzida posteriormente, a população temia continuar em perigo até que a medida fosse cancelada por completo.

As táticas policiais para dispersar os manifestantes no dia 12 de junho, incluindo o uso de mais de 150 latas de gás de efeito lacrimogêneo para afastar as pessoas da sede do governo, criaram novas reivindicações: a renúncia de Lam, uma investigação independente da conduta policial, a libertação das pessoas detidas durante os protestos e que os atos não sejam mais identificados como “motins”, algo que carrega grande significado legal.

Até o momento, contudo, nada disso aconteceu. Diversos analistas afirmam que uma renúncia de Lam é improvável e que Pequim não aceitaria a saída da líder mesmo que ela oferecesse. Ela tem mais espaço para lidar com as outras reivindicações, mas não dá indícios de que possa ceder, o que desenha um cenário de conflito prolongado.

China reluta em agir diretamente

O governo chinês tem um quartel do Exército Popular de Libertação a alguns metros do prédio do Legislativo de Hong Kong. Lá, milhares de soldados estão prontos para responder a um chamado de Pequim. Até o momento, contudo, a China continua a não interferir nos protestos, mesmo quando ganharam ares violentos e passaram a representar uma ameaça política para o presidente chinês Xi Jinping.

Segundo Ivan Choy, cientista político na Universidade Chinesa de Hong Kong, usar as Forças Armadas chinesas seria o pior cenário possível para Xi, cuja política linha-dura já é vista por muitos cidadãos de Hong Kong como uma tentativa de limitar a autonomia do território.

Xi prefere que o governo do território lide com a situação. O sucesso do autogoverno do território é importante para a imagem internacional da China e seu fracasso seria um golpe para Xi. Ainda assim, membros do governo chinês podem utilizar a violência de segunda-feira para justificar limites à autonomia do território. Os incidentes também podem ser usados para argumentar contra as reivindicações dos manifestantes, retratando-os como radicais que nunca ficarão satisfeitos.

Negócios estão de olho, mas evitam se envolver

A comunidade internacional de negócios que fez de Hong Kong um centro econômico global pouco ligou para os protestos de segunda-feira. A Bolsa de Valores do território registrou alta na segunda-feira, indicando estar pouco preocupada com o fato de os protestos terem ultrapassado os limites.

 

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https://www.osul.com.br/quatro-pontos-para-entender-as-manifestacoes-em-hong-kong/ Quatro pontos para entender as manifestações em Hong Kong 2019-07-03
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