Segunda-feira, 21 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 13 de julho de 2025
França e Reino Unido, as duas potências nucleares da Europa, anunciaram um novo pacto de defesa que inclui uma promessa inédita de que seus arsenais trabalharão juntos em caso de sério perigo para os aliados. O acordo, assinado entre o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o presidente francês, Emmanuel Macron, é um passo importante para lidar com a deterioração da segurança no continente diante das ameaças renovadas da Rússia e das incertezas sobre a proteção americana. As promessas de cooperação em defesa ocorrem enquanto a Ucrânia luta contra a Rússia, mais de três anos depois que o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão ao seu vizinho.
O anúncio foi feito na base militar britânica de Northwood ao final da visita de três dias de Macron ao Reino Unido. O acordo entre os dois países – ao qual os líderes se referiram como Declaração de Northwood – significa que qualquer ataque de um adversário resultará em uma “resposta de nossas duas nações”, disse Starmer.
O documento declara pela primeira vez que os respectivos meios de dissuasão de ambos os países são independentes, mas podem ser coordenados. “Há dois avanços: no nível operacional, com essa coordenação das duas forças de dissuasão”, explicou à agência France Presse Héloïse Fayet, pesquisadora de questões nucleares do Instituto Francês de Relações Internacionais. “O segundo aspecto é, obviamente, a extensão da dimensão europeia conjunta.”
Os dois países afirmam que não há ameaça extrema à Europa que não provoque uma resposta de ambos, tanto convencional, com ciberataques, e nuclear, segundo Fayet. Mantém-se, assim, deliberadamente, a ambiguidade sobre a existência de um guarda-chuva nuclear franco-britânico sobre a Europa e seu alcance.
A Europa há muito tempo depende dos EUA para proteção nuclear, já que muitas de suas nações são membros da Otan. Mas Trump fala cada vez mais sobre a necessidade de a Europa ter seus próprios meios para se defender contra potenciais adversários. O Reino Unido e a França são as únicas duas potências nucleares na Europa e, com os EUA, as únicas a ter esse arsenal dentro da Otan.
Com o governo Trump se afastando do apoio militar à Ucrânia, Starmer e Macron têm lutado para avançar com a “coalizão dos dispostos”, um grupo que criaram para enfrentar a Rússia e apoiar Kiev, ainda que alguns de seus membros tenham hesitado em prometer recursos militares, como aviões, uma antiga demanda dos ucranianos.
Em um discurso no Parlamento britânico na última terça-feira, Macron disse que os dois países “precisam trabalhar juntos para defender um multilateralismo eficiente e proteger a ordem internacional”.
Da base militar, ontem, o primeiro-ministro e o presidente participaram de uma videoconferência com os líderes dos outros países desse grupo sobre o conflito ucraniano.
Starmer e Macron, que realizaram uma cúpula semelhante pela última vezantes do retorno de Trump ao poder, em janeiro, também anunciaram um acordo de migração que pode reduzir o número de pessoas tentando cruzar o Canal da Mancha em pequenos barcos lotados lançados das praias do norte da França.
Ambos os temas estão no centro do que os dois líderes dizem ser uma relação diplomática melhorada entre os vizinhos, desgastada quando os britânicos votaram, por uma estreita maioria, para deixar a União Europeia em 2016, no que ficou conhecido como Brexit.
Em relação à imigração, autoridades britânicas e francesas vêm conversando há meses sobre como responder ao aumento no número de pequenos barcos lotados de migrantes que chegam ao Reino Unido, quase todos em busca de asilo. Starmer e sua maioria trabalhista estão sob crescente pressão para reduzir o número de migrantes não autorizados sem abandonar as obrigações humanitárias do país.
Os pequenos barcos se tornaram um método popular de viagem para o Reino Unido após a repressão bem-sucedida das autoridades aos migrantes que usavam caminhões transportados por balsas ou que viajavam pelo Eurotúnel.
O acordo anunciado, que ainda precisa ser apresentado à Comissão Europeia antes de ser assinado, baseia-se no princípio do “um por um”. Na prática, a França se compromete a aceitar o retorno de migrantes sem documentação que tenham cruzado o canal, após sair de suas costas, em pequenas embarcações. Em troca, Londres aceitará solicitantes de asilo que estejam na França e que tenham vínculos, especialmente familiares, com o Reino Unido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.