Sábado, 04 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 2 de julho de 2018
Só não é possível dizer que se exibiu a Bélgica em estado puro, porque o time produziu ofensivamente bem menos do que é capaz. Mas a comissão técnica da seleção brasileira pode tirar da dramática classificação um painel bem confiável do que espera o Brasil no duelo das quartas de final, sexta-feira. E, se quiser, pode começar pelo fim.
Descontada a má organização japonesa num escanteio a seu favor, o fato de, em segundos, a jogada ter terminado na outra área e com o gol de Chadli, no último lance da partida, mostra o que os belgas têm de melhor. O time implora por espaço para correr, acelerar, ativar a técnica de seu ataque. Qualquer perda da bola na frente pode ser punida por um time mortal quando consegue jogar em velocidade.
A corrida de De Bruyne até fazer a melhor opção de passe foi o grande momento do jogador do Manchester City no Mundial. Formado como meia ofensivo, foi moldado por Guardiola para se tornar um meio-campista total. Tem visão de jogo, inteligência, bom chute e passou a desarmar. A boa notícia é que não faz um grande Mundial, as pernas parecem acusar o fim da temporada, anda impreciso. E, posicionado como segundo volante, vem tendo dificuldade de proteger a área.
Mas a Bélgica não marca mal apenas quando é pega em transição defensiva. Quando está posicionada atrás, também tem muitos problemas. Tem dois volantes leves, que têm sido pouco agressivos no combate à frente da área e, para piorar, Hazard e Mertens, em tese os dois atacantes por trás de Lukaku, não têm hábito de recompor. É comum ver o time com uma linha de cinco defensores e apenas dois homens à frente deles. O gol de Inui, o segundo do Japão, é um retrato da liberdade na entrada da área belga.
A Bélgica pode oferecer espaços a Neymar, Coutinho, Willian. Mas nunca será possível dizer que enfrentar um time com tanto talento seja confortável. Mesmo coletivamente deficiente, dependente da velocidade e com certos problemas diante de times fechados, a Bélgica ainda consegue ser muito forte no ataque. Hazard, Mertens, De Bruyne e Lukaku podem fazer combinações em velocidade difíceis de marcar.
O que dá razões para Tite manter o 4-4-2 que iniciou o jogo de hoje. Manter o 4-1-4-1, com apenas um homem centralizado à frente da defesa, pode sobrecarregar este volante. Parece prudente ter Fernandinho e Paulinho alinhados – Casemiro está suspenso. Porque os pontas da Bélgica, Hazard e Mertens, não jogam abertos como extremas convencionais. Atuam mais fechados, buscando a entrada da área, numa zona morta entre volantes e defensores do rival. Isto geraria problemas para um volante solitário. Pode ser boa saída o Brasil ter um 4-4-2 com linhas bem próximas, reduzindo espaços. Há ainda o fator Lukaku, um atacante com a combinação de potencia física e capacidade técnica que o Brasil ainda não enfrentou. Sem tocar na bola, foi duplamente decisivo no último gol belga.
A questão é que a Bélgica pode mexer. É até natural que tente reforçar o meio-campo para não oferecer tanto conforto a meias e atacantes do Brasil. Uma solução seria colocar Dembele ao lado de Witsel, adiantando Kevin De Bruyne. O inconveniente seria alterar muito a forma de jogar, porque o sacado, em tese, seria Mertens, que se mexe bem por trás de Lukaku. Uma função que De Bruyne não costuma fazer.
Outra opção é a saída de Carrasco, para a entrada de um lateral de origem. Ou migrar para uma linha de quatro defensores, usando Vertonghen como um lateral mais marcador.
O jogo será um exercício de equilíbrio para o Brasil: atacar sem se expor muito. Terá que ser o melhor jogo do Brasil sem a bola na Copa, sem que Thiago Silva, Miranda e, provavelmente Fernandinho, tenham que se desdobrar para cobrir espaços abertos. Mas a Bélgica não deverá impor uma retranca, não é sua característica. Podem-se criar as condições ideais para o ataque brasileiro evoluir.