Quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de março de 2024
Criticado por movimentos de esquerda por ter declarado que o golpe de 1964 é história e que não quer remoer o passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu um apoio político inesperado de ninguém menos que o ex-vice-presidente da gestão Bolsonaro, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS).
“Ele está certo, 64 pertence à história. Faz 60 anos. Morreu o assunto”, afirmou. Mourão ainda avalia se falará sobre a efeméride no plenário do Senado, na semana do dia 31 de março. Mas deixa claro que se abordar o tema “ficará longe do pântano”, ou seja, sem fazer exaltações polêmicas.
General, Mourão admite que o assunto provoca emoções e conclui: “Será assim enquanto alguns atores estiverem vivos. Depois será só história contada pelos historiadores”.
No governo passado, Bolsonaro determinou que o Ministério da Defesa comemorasse a data. Na gestão Lula, as Forças Armadas voltaram a silenciar. O general Mourão também considera correta a decisão atual.
O ministro da Defesa, José Múcio, avalia que o tom da declaração de Lula sobre o golpe é resultado do bom entendimento do presidente com as Forças. “Nos quartéis não teremos manifestação, e vamos aproveitar para estimular o bom ambiente”, afirmou.
José Múcio constata que ainda há resistências, mas avalia que a declaração do presidente Lula ajuda no trabalho que vem sendo desenvolvido para superá-las. “Dos dois lados há pessoas que investem pouco nessa boa relação, mas o ambiente é o melhor possível”, ressaltou. A Fundação Perseu Abramo, do PT, porém, organiza debates para marcar a data.
Afago a militares
Em entrevista, o presidente Lula afirmou estar “mais preocupado” com os atos de janeiro de 2023 do que de 64, quando tinha 17 anos de idade. “Isso já faz parte da história, já causou o sofrimento de causou, o povo conquistou o direito de democratizar esse País, os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo”, disse o presidente. “Eu sinceramente não vou ficar me remoendo e vou tentar tocar esse País pra frente.”
A declaração de Lula pode ter agradado os militares, mas ofendeu a setores da sociedade civil. Mais de 150 entidades que integram a Coalizão Brasil por Memória, Verdade e Justiça repudiaram a fala do presidente sobre a ditadura.
“É um desrespeito. A reação dos familiares é essa: um sentimento de traição”, resumiu o músico Leo Alves, neto de desaparecido político. Seu avô, o jornalista Mário Alves, foi torturado e morto no DOI-Codi do Rio.