Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 17 de setembro de 2021
O ex-presidente Michel Temer afirmou nesta sexta-feira (17) que a conversa entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes um dia após os atos golpistas de 7 de setembro foi amigável, mas sem recuo do ministro. Temer lembrou que pouco antes do telefonema, ele havia apresentado a Bolsonaro uma carta à nação na tentativa de pacificar a crise institucional entre os poderes.
Ao participar da manifestação a favor de seu governo e de teor antidemocrático, Bolsonaro chegou a dizer que não cumpriria mais as decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e se referiu a Moraes como “canalha”.
Ao ser questionado sobre o teor da conversa entre o presidente e Moraes, Temer disse que não havia mistério no diálogo, mas deixou claro que o ministro não iria ceder nos casos que conduz no tribunal. Moraes é relator dos inquéritos em que o presidente é investigado na Corte, e principal alvo dos ataques de Bolsonaro nos últimos meses.
“Eles conversaram amigavelmente depois que o presidente apresentou um documento em que apenas coloquei alguns tópicos. Percebi uma conversa muito amigável, fraternal e adequada. Sem que o Alexandre recuasse um milímetro daquilo que juridicamente ele faz. Foi uma conversa útil naquele momento para distensionar”, disse o ex-presidente, ao participar de um debate online num fórum sobre liberdade e democracia, em São Paulo.
Em sua declaração à nação, Bolsonaro procurou conter os estragos causados pelas ameaças e ofensas contra o STF durante os atos de 7 de setembro e atribuiu os ataques ao “calor do momento”.
Após o episódio, o ex-presidente Temer voltou à cena. Nos atos contra o governo Bolsonaro do último domingo (12), aliás, alguns manifestantes carregavam bandeiras e faixas com os dizeres “Volta, Temer”. O material foi confeccionado por aliados do ex-presidente, que nega publicamente ter interesse em disputar eleição.
Desde que apertou o cerco no inquérito das fake news e na apuração dos atos antidemocráticos, Moraes se transformou no alvo principal dos ataques de Bolsonaro. O presidente chegou a dizer que se negaria a cumprir uma nova decisão do ministro, durante discurso inflamado no Dia da Independência. Na ocasião, o ex-capitão repetiu ofensas a Moraes, a quem chamou de “canalha”.
O ataque acirrou os ânimos de bolsonaristas, que subiram o tom contra Moraes e esperaram pelos ‘próximos passos’ na ofensiva. Caminhoneiros chegaram a fechar estradas pedindo a destituição do ministro. Políticos aliados ao presidente e blogueiros favoráveis ao governo repetiram as ameaças.
Bolsonaro, no entanto, “tirou o pé” e recuou dois dias depois. Ele disse respeitar Moraes e as instituições e cessou momentaneamente os ataques. A nota não foi bem recebida por apoiadores políticos. Um vídeo recente em que Michel Temer gargalha de uma imitação do presidente durante um jantar complementa o cenário de recepção do texto.