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Por Redação O Sul | 27 de junho de 2017
Depois do sequenciamento do genoma humano, veio a promessa da medicina personalizada. O objetivo final seria encontrar um remédio ideal para tratar não só uma doença, mas as minúcias e especificidades que se manifestam em cada indivíduo.
Mas se ainda está distante aquela ideia de ficção científica de pingar uma gota de sangue (ou inserir um fio de cabelo) em uma máquina e o dispositivo produzir a cura para todas as doenças que aquela pessoa tem –ou vai ter–, o caminho até lá está sendo pavimentado.
Uma das bases modernas da medicina personalizada é a área de pesquisa conhecida como farmacogenética. Ela se baseia na premissa de que é possível buscar, no genoma do indivíduo, pistas de quais drogas podem ou não funcionar para tratar determinadas doenças.
Os cientistas hoje se esforçam para destrinchar o que alterações em genes do complexo citocromo P450 (presente em células hepáticas e importante para a metabolização e eliminação de uma grande variedade de drogas) querem dizer para os tratamentos medicamentosos.
Se em um paciente esse complexo enzimático tem a característica de destruir rapidamente uma determinado calmante, a eficácia da droga provavelmente será afetada.
De posse dessa informação, algo pode ser feito para controlar a ansiedade dessa pessoa: entre as possibilidades estão aumentar a dose ou tentar uma opção de droga que não tenha esse perfil de metabolização tão acelerado.
Tentativa e erro
Descobrir na base de tentativa e erro qual remédio funciona pode ser uma tarefa especialmente exaustiva, já que saber se um antidepressivo está funcionando pode demorar semanas.
Até remarcar a consulta com o médico e fazer uma nova tentativa, a saúde pode degringolar. Foi o que aconteceu com Thaís Helena dos Santos, 57.
Por 17 anos ela brigou contra a depressão e estava quase perdendo a luta. “Fiquei oito dias sem comer, cheguei a perder 24 quilos. Meus filhos achavam que eu não iria sobreviver.”
Ela relata que foram oito internações em um ano e várias tentativas de remédio, seja para conseguir dormir ou para tentar tratar a doença, sem sucesso.
“Pedi licença do emprego achando que logo estaria de volta. Sem me recuperar, três anos depois fui aposentada por invalidez”, relata.
A peregrinação de remédio em remédio estava ainda longe do final. “Eu estava sempre chapada por causa dos medicamentos, cheguei a ficar dependente de ansiolíticos e até participei de reunião dos narcóticos anônimos.”
Uma das consequências desse período conturbado da vida de Thaís foi o diagnosticada com síndrome do intestino irritável. Ao investigar a doença, seu médico concluiu que as razões para o transtorno provavelmente eram psicológicas.
Thaís deixou de lado o neurologista e foi procurar um psiquiatra, que por sua vez recomendou a realização de um teste farmacogenético, que seria capaz de ajudar na seleção de um tratamento.
De fato, as drogas que até então vinha usando tinham boa chance de não funcionar ou de ter efeitos colaterais intensos. O médico escolheu uma das alternativas que pareciam promissoras e, desde então, 14 dos 25 quilos já foram recuperados.
“Ganhei de volta a capacidade de administrar minha vida, de dirigir um carro e de cuidar dos meus problemas, coisas das quais eu já não dava mais conta”, conta ela.
Ao ver um amigo melhorar de uma depressão com o auxílio de um teste que investiga aspectos da ação de cerca de 70 drogas que agem no sistema nervoso central, o ex-piloto de corrida Cezar “Bocão” Pegoraro, 67, transformou-se em um entusiasta dessa modalidade de teste e até mesmo realizou o exame para tentar achar um meio de tratar a própria depressão.
Preço
A aposta de Gntech, empresa sediada em Florianópolis, foi começar suas atividades oferecendo uma avaliação do perfil de drogas que atuam no sistema nervoso central para problemas como depressão, ansiedade, deficit de atenção e psicoses.
O teste que a Gntech oferece, ao custo de R$ 3.990, é baseado em um sequenciamento genético de última geração, desenhado especificamente para essa modalidade de teste.
É um exame com objetivo diferente dos testes preditivos, que aferem a chance de uma pessoa desenvolver um tipo de câncer ou doença degenerativa, por exemplo.
No casos em questão, já existe um diagnóstico (depressão, por exemplo) e o teste serve como uma ferramenta de refinamento para o médico escolher a melhor droga, explica May.
Na visão de especialistas, a falta desse tipo de estudos é o que define a limitação dos atuais testes para drogas que atuam no sistema nervoso central, no sistema cardiovascular ou em casos oncológicos.
Entre os milhares de possíveis variantes genéticas existentes na população, apenas algumas podem, de fato, dizer algo sobre o comportamento de drogas no organismo humano.